sábado, 27 de agosto de 2016

Amor e medo

Há basicamente duas maneiras de se viver neste mundo: com AMOR ou com MEDO.

Já é fato mais do que amplamente conhecido que viver com amor é um estilo de vida essencial para eu levar uma vida saudável e feliz, a despeito de todas as dificuldades, resistências e frustrações que eu possa encontrar ou sofrer no meu caminho. Amor que é, antes de tudo, amor por mim mesma. Ser capaz de assumir ser quem eu sou do jeito que eu sou, agrade ou não a quem quer que seja. Na prática, significa eu ser capaz de compreender, acolher e aceitar incondicionalmente a pessoa que eu sou, em cada momento e lugar da minha vida.

Amar-me significa ter confiança em mim, autoconfiança, "fé no meu taco", como se diz por aí. A maior parte das coisas que eu não posso, eu não posso não porque eu realmente não posso, mas porque eu acredito que eu não posso. Não que eu possa tudo que eu acho que posso, mas reconhecer e afirmar para mim mesma que eu posso é o primeiro passo para eu realmente vir a poder, até mesmo coisas que eu sempre julguei que eu jamais poderia.

Com autoconfiança, eu creio firmemente ser capaz, eu creio que eu posso, que eu consigo, que eu tenho capacidade e disposição para ir em frente, aprendendo o que eu não sei, reconhecendo e aproveitando as oportunidades que surgem, ultrapassando os obstáculos que surgem, vencendo os meus bloqueios e superando minhas limitações.

O oposto de amor não é o ódio, como muita gente pensa. É medo.

Onde o medo se instala, não há mais nenhuma chance, nem para o amor, nem para a autoconfiança, nem para nenhum outro sentimento empoderador.

Existe apenas uma forma de amor: ou se ama ou não se ama. Ao contrário, existem inúmeras formas de medo, todas muito sofridas e dissimuladas, mas todas igualmente destrutivas da alma, do coração e da cabeça humana.

O primeiro medo de todos é o medo da pessoa ser rejeitada pelos demais. É esse medo que nos leva a nos acomodar aos padrões e exigências dos outros, por mais insatisfatórios e desprazerosos que sejam, tentando atender todo mundo e agradar sempre, a fim de jamais ser excluída do grupo.

É o medo de ser rejeitada que me impede de sentir amor por mim mesma, de ser e expressar diante de todo mundo a pessoa que eu sou. É o medo de desagradar os outros que me leva a renegar, a reprimir, a recalcar e até a destruir a minha verdadeira natureza. O pior é que, iludindo-me com a recompensa de obter o amor do outro, acabo perdendo completamente a a minha identidade verdadeira, tornando-me um grosseiro arremedo do que os outros querem que eu seja.

Uma outra forma do medo, profundamente associada com o medo de ser rejeitada, é o medo de errar, de perder, de não conseguir fazer direito, de não dar certo, de fracassar. É esse medo que me leva a duvidar das minhas próprias competências e habilidades, desprezando, para não me arriscar, até mesmo as oportunidades reais que me aparecem de acertar, de conseguir, de ganhar, de alcançar o êxito.

E há também o medo do desconhecido que é, aparentemente, o medo daquilo que ainda não chegou e que ninguém sabe nem mesmo se virá. Quando eu olho o futuro através da lente do medo tudo que vejo é angústia, ansiedade, tristeza e desolação, o que me leva a querer me agarrar em alguma “tabuinha de salvação”, buscando conservar o que eu supostamente já consegui em vez de partir para novas conquistas.

Por causa disso, o medo do desconhecido pode ser visto como “apego ao conhecido”, agarramento com falsas seguranças que me proporcionam uma sensação momentânea de equilíbrio e estabilidade na dinâmica acelerada e em constante mutação da vida. Quando eu olho o futuro através da lente do amor, tudo que eu vejo é alegria, satisfação, resultados alcançados, paz e prosperidade. E vejo também perdão e acolhimento para o caso dos meus projetos não derem em nada, acabarem “fazendo água”...

O medo mais terrível de todos é o medo de morrer, que pode ser visto como uma síntese dos medos anteriores. A dúvida que mata é: como é que eu posso viver sabendo que eu posso morrer a qualquer momento? De que me adianta me arriscar a fazer alguma coisa se eu já estou condenada a morrer por antecipação?

A responsável por essa crença infeliz sobre a morte é a nossa cultura que falsamente enaltece as virtudes da vida, nos ensinando que a morte é o oposto da vida, em vez de nos mostrar que a morte é parte integrante e essencial do próprio processo de viver. Por causa dessa visão que nos é passada a respeito da morte, o medo de morrer acaba sendo o mais forte obstáculo para que uma pessoa consiga viver de maneira plena e feliz.

Onde, entretanto, existe amor, o medo da morte se transforma em vontade de viver intensamente cada minuto que passa. O amor nos faz descobrir a esperança, essa doce sensação de que o amanhã será melhor do que o hoje, e os esforços do presente resultarão sempre em crescimento, ainda que não sejam bem sucedidos do ponto de vista material. E tudo vale a pena, exatamente porque a vida é breve e porque todas as pessoas vão morrer.

Onde há medo, há desespero, essa terrível condenação que nos obriga a sermos prisioneiros de um presente “sem graça” e de um futuro “sem saída e sem solução" e a viver por viver, aguardando, apenas, passivamente, o inevitável cumprimento da sentença de morte.


Eu sou responsável pela minha felicidade.
O rumo da minha vida depende, essencialmente,
da minha própria vontade.

Não sou vítima de nada, nem de ninguém, realmente.
Quem me obriga a fazer igual?
Quem me impede de fazer diferente?

Consciente ou inconscientemente,
Tudo que faço é por decisão própria
Sou eu que escolho a estrada e que sigo, ou não, em frente.

É desculpa esfarrapada,
que não leva a nada,
dizer que alguém ou alguma coisa me prende.


Geraldo Eustáquio 03.07.2004 Letícia Lanz 27.08.2016

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