quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Concursos de beleza são permanentes reforços ao binarismo de gênero e à objetificação da mulher

Confirmando que concursos de beleza são permanentes reforços ao binarismo de gênero e à objetificação da mulher, no dia 18 de setembro realizou-se, em Barcelona-ES, o 5º Miss Trans Internacional. 

Embora o evento seja divulgado como uma oportunidade para que as pessoas transgêneras, tão hostilizadas ao redor do mundo, possam lutar por direitos iguais na sociedade, na prática as coisas são bem outras. Só podem participar do evento pessoas que se enquadram em rígidas regras de "feminilidade" institucional.

Para se elegerem, a organização do certame não exige que as participantes tenham feito cirurgia de reaparelhamento genital, MAS ELAS DEVEM TER UM ROSTO E UM CORPO QUE PREENCHA AS "NOÇÕES TRADICIONAIS" DA BELEZA FEMININA IDEAL. Ou seja, não é qualquer pessoa transgênera que pode participar do concurso de beleza, mas somente aquelas que atendam os estereótipos do gênero feminino em vigor na sociedade.

Depois, essas mesmas pessoas querem brigar com as terfs, cujas críticas às pessoas trans são em grande parte provenientes desse reforço das pessoas trans aos estereótipos de gênero, particularmente aos estereótipos de mulher. 

Ou querem discutir os critérios de elegibilidade de pessoas trans para a cirurgia de reaparelhamento genital adotados pelo SUS, por se basearem nos mesmos parâmetros desses concursos de beleza: a pessoa tem que ter "cara de mulher", "corpo de mulher" e atitudes de mulher, evidentemente cara, corpo e atitudes totalmente estereotipadas. Se esses critérios não forem atendidos, não entra no concurso e nem faz cirurgia de reaparelhamento genital. 

Ou viram uma fera com juízes que negam a modificação do nome civil e do gênero na certidão de nascimento, alegando que a requerente "não se parece" com uma mulher. 

Transgeneridade não escolhe cara nem corpo para se manifestar. Assim como a própria feminilidade, impõe-se ao corpo pré-existente, sem nenhuma consideração se esse corpo é apropriado ou não a incorporar uma identidade transgenerada. 

Na mesma medida em que os concursos de beleza reforçam os estereótipos de gênero, desqualificam e invisibilizam as pessoas trans que não são capazes de preencher esses quesitos de beleza. Uma lástima que o gueto transgênero ainda se preste a promover esses estereótipos.

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