terça-feira, 13 de setembro de 2016

Quem falou que não existem transexuais armarizadas?

Quer dizer que não existem transexuais “no armário”, como existem no caso de travestis, crossdressers e dragqueens? Que todas as transexuais já nascem poderosas e empoderadas, pisando firme no seu salto 15 e enfrentando o mundo de peito (aff!) aberto?

Pois esse é o discurso oficial dos movimentos autodenominados "organizados", para quem toda transexual, na opinião deles, parece ser real e assumida desde sempre.

Evidentemente não pode haver mentira maior. Quem disse que não existem pessoas transexuais armarizadas? A própria OMS – Organização Mundial de Saúde estima que a parcela transgênera da população represente de 2% a 5% da população mundial adulta.

Ora, é fácil perceber que o número de pessoas que se reconhecem nas diversas identidades incluídas na população transgênera (transexuais, travestis, crossdressers, andróginos, dragqueens, etc, etc), e que assumiram viver plenamente à luz do dia, não chega a zero vírgula alguma coisa.

O grosso da população está no armário – e a maioria não tem condições de sair de lá, tão cedo, numa sociedade que pune brutalmente qualquer tipo de des vio das normas oficiais de gênero.

A verdade é que os movimentos oficiais nunca se referem à parcela enorme de pessoas transexuais que vivem no armário – e que, tal como travestis e crossdressers, precisam de compreensão, apoio e ajuda, tanto quanto ou até muito mais do que as transexuais que estão na ativa.

Um grande número de transexuais MtF, que se consideram a “nata” da população transgênera, faz questão de desconhecer e execrar toda e qualquer outra identidade gênero-divergente que porventura exista ou que venha a existir, particularmente aquelas que, segundo seus cânones destrambelhados, passam mais tempo no armário do que na vida real, como crossdressers, transformistas e dragqueens.

Além de ser um flagrante desrespeito à população transgênera da qual essas pessoas fazem parte (ainda que sequer se reconheçam como tal, preferindo assumir a condição de “cisgêneras incompreendidas”), trata-se de um solene desprezo por pessoas que precisam de muita ajuda e compreensão para se empoderar. Como afirmou Harvey Milk, o iconográfico líder LGBT norte-americano, todos os esforços do movimento devem ser para esvaziar os armários e permitir que as pessoas andem livremente pelas ruas, com dignidade e segurança.

É uma prova de egoísmo extremo, além de um grande desserviço aos direitos humanos, desconhecer a população armarizada. Fingir solenemente que ela não existe, chamando de “mariconas covardes” as transexuais que permanecem no armário, aguardando o seu tempo de empoderamento para enfrentarem família e sociedade, é uma sacanagem dessas transexuais que se consideram tão “especiais", que se acham a última bolacha do pacote.

Um comentário:

Unknown disse...

Pena vc não ter citado tb os homens trans armarizados e ter tratado tudo no feminino. Assim, ficamos mais invisíveis do que já somos. bjs