domingo, 27 de novembro de 2016

Quando a liberdade grita dentro de você

Quando a liberdade grita dentro de você, só há três coisas a fazer: tapar-lhe a boca, tapar seus ouvidos ou parar de tapar o sol com a peneira e romper de vez com o que mantém você refém do mundo e prisioneira de si mesma.

Você pode tentar silenciar seu grito de liberdade, como tem feito a vida inteira, mas já sabe, por muitas frustrações anteriores, que a voz da liberdade não irá se calar. Ela será apenas abafada por mais um tempo, até que um novo descuido da sua autovigilância deixe o seu desejo de liberdade gritar novamente dentro de você, com o barulho de mil sirenes e a força descomunal de um regime de séculos de fome, sede e maus tratos.

Você pode também tapar mais uma vez os próprios ouvidos, fingindo não escutar sua ânsia de liberdade gritando dentro de você. Mas também sabe que é inútil usar protetor auricular, enfiar quilos de algodão nos ouvidos e devorar caixas e mais caixas de lexotam ou rivotril, pois vai continuar a ouvir a liberdade gritando loucamente por liberdade dentro de você.

O único expediente que funciona para calar para sempre o seu grito de liberdade é fazer uma revolução na sua vida e libertar-se do jugo de opressão que você se impôs, em nome da defesa idiota e nonsense dos valores de uma sociedade que está literalmente cagando e andando para o seu bem estar como indivíduo.

Se essa for a sua escolha, prepare-se para uma longa temporada de relâmpagos e trovões em sua vida, pois a mesma revolução que vai resgatar a sua liberdade de ser, vai também lhe trazer muitas perdas e merdas. Perda de privilégios (mas quem pode gozar de privilégios sem poder ser nem mesmo a pessoa que é?). Perda de status (grande merda ostentar uma fachada socialmente respeitável e admirável, que em nada corresponde à pessoa que você é...). Perda de amizades (mas que beleza de amizades que respeitam você não pelo que você é, mas por quem elas querem que você seja!).

Mas o prêmio da sua libertação mais do que compensa o seu esforço. Não há nenhum bem ou riqueza nesse mundo que ao menos se assemelhe ao prazer de ser a pessoa que a gente é. Nada jamais será capaz de substituir o prazer único e indescritível de poder se olhar por dentro e por fora, e se reconhecer, do mesmo jeito, como uma mesma e única pessoa, sem nenhum desvio, diferença ou contradição.