quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Que venham os novos-velhos Trumps, Bolsonaros, Malafaias, Putins, Le Pens e Crivelas da vida

RCA Victor, a voz do dono...
Passado o choque inicial, que todo mundo e que o mundo inteiro está tendo com a eleição de Trump, eu me encho de esperança. A direita conservadora sempre soube se articular e vender o seu peixe fedido para populações carentes de pai, ordem e nenhum progresso.

Sim: nenhum progresso. Progresso agride as mentes socialmente treinadas desde o nascimento até a morte para “não mudar” (o que é sociedade senão um conjunto de normas de conduta que torna a realidade “previsível” e reduz a angústia humana com a incerteza e o desconhecido?).

Povão não ta querendo saber de progresso, não. Ta a fim de praia, futebol e televisão, numa economia que ofereça tudo sem cobrar nada de ninguém, a própria antecipação do paraíso na terra.

É esse discurso “redentorista” que elegeu o Trump: deixe aqui com o papaizão de todo mundo que eu vou suprir todos os seus sonhos de grandeza e comodidade sem nenhum esforço. Sem sangue, sem suor e sem lágrimas...

Antigamente, ainda na horda humana, as populações, por medo de andarem por suas próprias pernas, se rendiam ao comando de qualquer demiurgo charlatão mas forte o suficiente para submeter todo mundo. Essa necessidade compulsiva por um pai protetor não desapareceu e, pelo contrário, parece ter até se ampliado nos tempos mais do que incertos dessa pós-modernidade em que vivemos.

Mas todo adolescente, ao mesmo tempo que carece de pai, quer ver o pai pelas costas. Aliás, essa é a única maneira do adolescente ingressar e se estabelecer na fase adulta.

É por isso que eu estou cheia de esperança. Acredito mesmo que a atual onda neoconservadora da humanidade vai durar muito pouco. Pelo menos até as pessoas descobrirem que sua necessidade de um pai redentor todo-poderoso é tão falsa e burra quanto a necessidade por um super-Estado protetor, fazendo o papel desse pai.

A humanidade está vivendo uma nova adolescência. E, como em toda adolescência, ainda há muita confusão entre caminhar decididamente para o futuro (sem medo de ser feliz...) ou ficar agarrada ao passado, amparada por muletas políticas e religiosas que já demonstraram a sua total ineficácia para resolver as questões humanas.

Não digo que não iremos sofrer: aliás, já estamos sofrendo. Mas sofrimento é parte quase inseparável de qualquer processo de ruptura e progresso, rumo a novos dias, realmente novos.

Que venham, portanto, os novos-velhos Trumps, Bolsonaros, Malafaias, Putins, Le Pens e Crivelas da vida, com sua orgulhosa e horrível máscara de salvadores da pátria. Não vou dizer que são bem-vindos, mas são o mal necessário para que as pessoas cresçam e apareçam, enquanto indivíduos e enquanto sociedade.

Diante das inevitáveis tormentas façamos, pelo menos, uma jornada com alegria e energia, sem os choros e ranger-de-dentes do inferno de Dante. Tenhamos a grandeza histórica de, pelo menos, fazer com que os nossos sofrimentos não sejam em vão. Que representem o caminho para uma nova emancipação da humanidade e o surgimento de um tempo pós-tudo que conhecemos até agora.

Essa é a missão de cada pessoa nesse mundo: crescer e fazer o mundo crescer.

PS - Quem sabe, agora, os setores progressistas da sociedade consigam abrir mão do seu exasperante narcisismo, do seu protagonismo interesseiro, da sua defesa identitária arrogante e intransigente, e busquem a celebração de alianças em favor da luta pelo resgate e manutenção dos direitos humanos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já estamos acostumados a lutar contra a ignorância, a injustiça e o medo .
Pois que venham, e nos deixem mais fortes