domingo, 10 de setembro de 2017

As "trans" e o resto de nós...

É fato sabido que todos os membros de uma dada sociedade estão obrigados a adotar e seguir o conjunto de leis (escritas, regulamentadas) e normas (costumes, valores, tradições) que constituem a base institucional daquela sociedade. Os que cumprem as leis e as normas são considerados “bons cidadãos” que, por isso mesmo, tornam-se “merecedores” de recompensas e privilégios. Os que descumprem, são considerados delinquentes e “fora-da-lei” ficando, por isso mesmo, sujeitos às penas previstas para os infratores das leis e das normas.

Se a sociedade estabelece que o tráfico de drogas constitui transgressão, pouco importa para efeito de caracterização do crime que a pessoa tenha traficado “apenas” um quilo ou dez toneladas. Como também pouco importa com que frequência e de que forma ela pratica o tráfico. No máximo, uma frequência baixa da prática do tráfico e a ausência de práticas lesivas à integridade física de outras pessoas serviriam como motivos para o abrandamento da pena, não para a sua remoção.

O que caracteriza a condição transgênera é a transgressão de normas de conduta de gênero estabelecidas pela sociedade. Uma das normas de gênero mais duras e resistentes na nossa sociedade é a prática do travestismo, fortemente repelida pela nossa cultura patriarcal-machista. Ao se vestir com roupas socialmente destinadas ao gênero oposto ao dela, a pessoa desobedece e transgride a interdição cultural tornando-se objeto de punição por parte da sociedade. Pouco importa que a pessoa se apresente travestida apenas ocasionalmente, por simples passatempo e diversão (como afirmam certos crossdressers, afff...) ou faça isso cotidianamente, como parte do seu estilo de vida. Praticar travestismo ocasionalmente ou cotidianamente pode, teoricamente, abrandar as penas previstas, não eliminá-las.

Por não entender as bases de organização sociopolítica e institucionalização da sociedade, as pessoas mais desinformadas acreditam que as pessoas transgêneras são repelidas e punidas pela sociedade em virtude do que elas fazem ou deixam de fazer com o próprio corpo, especialmente do ponto de vista do exercício da própria sexualidade. Para elas, portanto, só “merecem” o “título” de pessoa tran (trans = abreviatura de transgênera) se elas tiverem promovido vastas e profundas mudanças no próprio corpo, dentro do dogma proposto pelo que se conhece como transexualidade.

Crossdressers, que só se montam “ocasionalmente”, sem fazer, segundo esses dogmas, nenhuma alteração corporal duradoura, assim como transformistas ou dragqueens que, também de acordo com esses dogmas, só se montam para trabalhar no show business, não são pessoas trans. Para essas pessoas, crossdresser, transformista e dragqueen não pode nem ao menos ser consideradas como transidentidades ou identidades transgêneras. Essas são identidades “fake” que, segundo elas, só servem para “prejudicar” a reputação ilibada dessas “gloriosas transexuais”. 

Parece cada vez mais nítido que "transexuais-que-se-consideram-100%-mulheres" almejam apenas hegemonia política da sua "marca", assim como total exclusividade de serem reconhecidas como pessoas transgêneras. Para isso, apropriam-se inclusive, de forma totalmente indevida, do termo "trans" que, para elas, vem de transexual e não de transgênero. 

Qualquer manifestação ou discurso fora dos rígidos dogmas identitários defendidos por essa parcela da população T, infelizmente ainda muito numerosa, especialmente por uma falta crônica de conhecimento e informação dos seus membros, é vista como "ameaça" ao binarismo de gênero que defendem, usando "cortinas de fumaça" como defesa da diversidade de gêneros (aff...) e dos direitos humanos. Diversidade, entenda-se, é só a delas, assim como os direitos humanos que dizem defender. Como diz o ditado, fubá pouco, meu angu primeiro. 

Com esse dogmatismo todo, elas estão muito mais próximas das doutrinas do boçalraro e de fundamentalistas religiosos do que das "doutrinas de proa", como Butler e Preciado, que essa gente insiste em defender em seus discursos, com a maior cara de pau do mundo. Deviam pelo menos assumir sua postura absolutamente conservadora em relação a identidade de gênero, em vez de posarem como baluartes "queer". 
 
A deusa que me perdoe, mas eu não tenho mais saco nem ovário pra tanto narcisismo explícito.

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