quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O imaculado c* do homem brasileiro

Vaso sanitário de ouro, do artista italiano
Maurizio Catellan, Museu Guggenheim NY.
O homem brasileiro tem uma profunda dificuldade em lidar com o seu cu, órgão com o qual mantém uma relação absolutamente neurótica e traumática. Para o homem brasileiro, cu não é cu, mas uma espécie de lugar ao mesmo tempo sagrado e demoníaco que lhe inspira toda sorte de pesadelos noturnos e diurnos.

Na fantasia do homem brasileiro, o cu não deve existir, a não ser para excretar fezes. Ao menos pensar o cu de maneira erótica, fora da sua atividade higienizadora, implica em receber a mais pesada pena possível e imaginável para um homem brasileiro: ser chamado de viado.

Isso gera no homem brasileiro um temor alucinante, que faz com que muitos homens nem ao menos se disponham a limpar o ânus depois de uma evacuação, com medo de tocar um órgão com capacidade potencialmente tão destrutiva da sua reputação masculina.

Assim, para o homem brasileiro, o cu é intocável e também impronunciável. Habitualmente se vê cu escrito na forma c*, onde o asterisco representa o execrável “u”, que muitos acentual, mas que não tem acento nenhum, por se tratar um monossílabo terminado em u. Ou seja, até na língua é negado assento ao cu!

Esse apavorante mito ligado ao cu masculino, insistentemente incutido na cabeça do menino desde a infância, faz com que ter um cu seja um permanente tormento para o homem brasileiro. Não é à toa o ditado que diz: quem tem cu, tem medo. Esse ditado tem total fundamento, em se tratando do homem brasileiro.

O resultado dessa absurda aversão ao cu, faz com que o homem brasileiro rejeite terminantemente a ideia de explorar o incrível potencial erótico desse órgão, fazendo com que ele ao mesmo tempo se torne um implacável perseguidor de pessoas que eventualmente descobriram a possibilidade de usar o cu para funções mais nobres do que simplesmente defecar.

Assim, uma das principais características do machismo do homem brasileiro é a defesa intransigente da virgindade do cu – o próprio e o dos outros. E aí é que está a questão: se fosse apenas do próprio cu, tudo bem: é um direito da pessoa fazer o uso do que é seu da melhor maneira que lhe aprouver. Mas a questão é que esses “cu-recalcados machistas” implicam ainda mais com o cu dos outros do que com o próprio cu.

Muitos, inclusive, talvez a grande maioria, faz uso secreto do cu como fonte do prazer, ao mesmo tempo em que joga pedra no cu dos outros. Podiam ao menos deixar o cu dos outros em paz e estaria tudo bem.

Mas não. E o pior é que alguns homens mais exaltados quanto ao uso indevido do cu (na opinião deles) saem por aí reunindo seguidores aos milhares e fazendo plataforma política a partir da defesa do cu. E são tanto da esquerda quanto da direita porque, em termos de defesa do cu, as ideologias políticas desaparecem completamente em favor de um machismo arcaico, rude, tosco e grosseiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Boa noite, chamo-me Ana,sou transsexual de Portugal,gosto muito dos seus textos e fazem todo o sentido. Infelizmente não é só o homem brasileiro o homem português (Macho Latino)é igual.
Cumprimentos de Portugal
Ana.

Unknown disse...

Simplesmente perfeito o teu texto!