quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Facebook e os ratinhos na moderna cuba eletrônica de ensaios

Resisti enquanto pude para entrar no facebook. Só em 2012, depois de muita insistência de amigos, convenci-me de que era um bom canal para veicular meu pensamento, de outra forma condenado às traças, especialmente às traças eletrônicas.

Acontece que longe de ser um caso romântico, minha relação com essa rede social foi desde o início tensa e conflitiva. Logo no meu ingresso, fui convocada pela “gerência” da engenhoca eletrônica a apresentar cópia dos meus documentos. Por me apresentar com o nome de Letícia Lanz, eles estavam me acusando de falsidade ideológica. Até hoje, não faço a menor ideia de como eles chegaram a tal conclusão. A hipótese mais provável, contudo, é que tenha sido através da denúncia de terceiros. Em resumo, para continuar nos quadros do ilibado mecanismo de troca de mensagens, eu tive que xerocar meus documentos e enviar para a gerência do bordel cibernético.
Ao longo de seis anos publicando diariamente, fui advertida, bloqueada e suspensa inúmeras vezes. A alegação de sempre para a punição era a de estar ferindo os princípios estabelecidos pelos estatutos da gafieira eletrônica. Embora sempre sugerissem que eu lesse tais estatutos – e eu li, inúmeras vezes – nunca encontrei neles nenhuma correlação direta com o conteúdo das minhas publicações vetadas. Novamente, a hipótese mais plausível é de que eu tivesse sido denunciada por terceiros e, com base nessas simples denúncias, a gerência da engenhoca eletrônica resolvesse unilateralmente me punir.

Todas as vezes que eu fui punida, eu decidia voltar “heroicamente”. Mas de heroico meu ato de bravura não tinha nada. Eu já estava inteiramente viciada no “crack-like” feicebuquiano. Tinha se tornado fundamental continuar recebendo minha dose diária de crack-aplauso. E tal como com o crack, numa escala crescentemente crescente.

Pouco me importava que eu estivesse imersa numa rede com milhões de perfis-absolutamente-fake a quem, entretanto, a gerência do bordel eletrônico jamais tinha solicitado o envio de cópias da documentação – pelo correio, como tinha sido exigido no meu caso! Pouco me importava que os meus movimentos estivessem sendo permanentemente monitorados por famigerados “bots”, construindo e reconstruindo algoritmos determinantes do meu “destino eletrônico”: com quem eu me comunico, minhas preferências e idiossincrasias em todas as áreas, minhas tendências de euforia e depressão e até mesmo o melhor horário do dia para alguém conseguir me vender bugigangas pela rede...   

Nada dessas questões me importavam diante da necessidade premente de continuar recebendo minha provisão diária do “crack-like” feicebuquiano.
Foi assim até o início desse mês de outubro, quando publiquei um artigo sobre o candidato neofascista. Imediatamente, sua trupe de apoiadores, a maioria composta de perfis-fake, em vigília ostensiva nas redes sociais para localizar e eliminar ataques ao seu “mito”, partiu para o ataque à minha pessoa, através de mensagens ameaçadoras, grosseiras e de baixo calão, enviadas através do Messenger do facebook.

Inocente, escrevi à gerência do bordel eletrônico solicitando providências contra dezenas de pessoas que me atacavam. Mas, para surpresa minha, em vez de me comunicarem que a aplicação de alguma punição a esses marginais, eu é que fui punida com mais uma suspensão de 30 (trinta) dias, incluindo a impossibilidade de enviar e receber mensagens através do Messenger.

Nessa hora, bateu-me uma coragem até então entorpecida pela dose diária de “crack-like” e eu tomei a decisão de encerrar definitivamente minhas contas nessa engenhoca cibernética.

Os primeiros dias foram terríveis. Vivi, inclusive, tremendas crises de abstinência e, por muitos dias, não tive sequer disposição para voltar a escrever, publicando modestamente no meu blog, sem nenhum estímulo de crack-like diário.
Minha grande tristeza nisso tudo é ter descoberto que, além de ser falso, o facebook estimula a falsidade das pessoas. Ao contrário da rede de proteção do candidato neo-fascista, que me impôs mensagens contendo impropérios e ameaças, determinando a minha própria suspensão no facebook, eu tive apenas duas zelosas amigas para ao menos darem falta da minha presença.
A sorte minha é que estou fora e fora permanecerei desse grande bordel eletrônico, onde as pessoas não são e não representam absolutamente nada além de ratinhos numa cuba de ensaio, sendo condicionados para fazer exatamente o que a cafetinagem cibernética espera deles. Em troca de meros instante de crack-likes...  

Um comentário:

Unknown disse...

Você é fantástica! Adorei o texto. E também senti sua falta na rede social......<3