sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O fosso existente entre o “eu” e o “outro” no mundo atual

A era tecnológica resolveu o problema da solidão humana estimulando o isolamento ainda maior do ser humano, ao disponibilizar para todo mundo um gigantesco parque de diversões, cheio de brinquedos, eventos e atrações em que qualquer pessoa pode se divertir sozinha, a qualquer hora e em qualquer lugar, sem depender nem precisar da companhia de mais ninguém.

Mas será que isso satisfaz a demanda nº1 de um animal gregário, como é o caso do ser humano, que é estar em contato com outros seres humanos, sentindo-se acolhido e protegido como indivíduo por indivíduos da mesma espécie?

Evidente que não: gente precisa de gente, por definição. Seja para amar ou até mesmo para odiar, pessoas necessitam do contato real e presencial com outras pessoas. Sem alteridade (o outro), não existe identidade (eu). E não é suficiente que essa alteridade seja apenas virtual. É preciso que ela seja real e concreta, de carne e osso.
É desalentador o estado atual de isolamento das pessoas, cada vez mais mergulhadas 24h por dia no parque de diversões eletrônicas como forma de suprir a solidão do mundo pós-tudo. Só que esse mergulho no mundo virtual, em vez de suprir a falta de contato com o outro, apenas intensifica a ausência do outro na vida de cada indivíduo.

Como também é paradoxal imaginar que, na era das comunicações instantâneas, em que todo mundo está ligado por redes extremamente potentes de comunicação, haja uma distância cada vez maior e cada vez mais acentuada entre os indivíduos.

A maioria considera o contato com o outro muito perigoso, em todos os sentidos. O outro pode lhe molestar, lhe criar constrangimentos, lhe trair, lhe abusar e lhe violentar. Raramente alguém lembra que o outro também pode lhe fazer companhia, lhe acolher, lhe ajudar e lhe proteger.

Melhor que o contato com o outro seja apenas e tão somente no mundo virtual, onde tudo é mais seguro, apesar de menos - ou de nada - verdadeiro. Melhor que o nome e o endereço reais sejam mantidos em segredo. Melhor usar um nome fictício, um “avatar”, um perfil falso ou enganoso no facebook, a fim de navegar com tranquilidade e total privacidade pelos oceanos da solidão virtual.

E, mais uma vez, esses expedientes apenas aumentam o tamanho do fosso já existente entre o “eu” e o “outro” no mundo atual. Tanto o “eu” quanto o “outro” se tornaram meras ficções, sem nenhum lastro de realidade concreta. Eu não sei quem você é e você tampouco sabe quem eu sou. Doce ilusão de preservação de uma “privacidade” totalmente inexistente para os onipresentes mecanismos de controle e monitoramento da matrix, que sabem exatamente quem é e o que faz o “um” e o “outro”.

Talvez sejam tolas elucubrações de uma pensadora humanista. Talvez tenhamos avançado tanto na alienação do eu em relação a si mesmo e ao outro que esse seja o único destino que resta ao eu e ao outro no mundo tecnológico: tornarem-se completos anônimos sociais em um mundo onde até o anonimato é completamente monitorado e controlado pela sociedade.

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