Palavras podem ser piores do que pedradas. Quantas vezes fui pra casa chorando por terem me chamado de “mulherzinha” na escola! E chorar apenas confirmava que eu era mesmo mulherzinha, pois homem não chora...
Em casa, às vezes, eu ouvia coisas ainda piores. – Como você “deixa” seus colegas chamarem você de “mulherzinha”? Você é homem! Tem que honrar as calças que veste (naquele tempo, aqui no Brasil, mulher só aparecia usando calças na tela do cinema).
Hoje eu me orgulho de ter assumido a minha condição de “mulherzinha”. Afinal, os mentecaptos dos meus colegas não estavam tão errados assim. Alguém delicado como eu, de voz macia e comportamento emotivo não servia para ser membro de uma tribo de trogloditas, prontos a atacar, bater, violentar, destruir.
Mas aquelas coisas duras de se ouvir ainda fazem eco na minha cabeça e no meu coração.
Não me machucam mais, tanto, como tanto tempo machucaram muito. Ao me lembrar delas, penso apenas como as pessoas, com simples palavras, podem ser tão terrivelmente malvadas umas com as outras.
Palavras ferem demais. Se chegam, então, num momento em que nos sentimos mais enfraquecidas e fragilizadas, podem causar estragos para a vida inteira. E, infelizmente, o propósito de palavras duras, ditas a pessoas fracas, ainda que só momentaneamente, têm o propósito de torna-las ainda mais fracas e impotentes. Ou de fraturar de vez um coração ferido, com palavras brutas, vulgares, mentirosas, mesquinhas, arrogantes, insensatas, invejosas, enlouquecidas, sinistras e despropositais.
Não espero que eu mesma seja capaz de dizer sempre as “coisas certas, de modo certo, na hora certa”, a todas as pessoas com que eu convivo e que convivem comigo. Tem hora que a gente é um animalzinho selvagem, completamente não domesticado, capaz de agir com requintes de crueldade na demolição do outro. Comigo isso acontece, sim.
E é por isso que, quando me dou conta de ter ferido alguém com palavras de pedra, me vem um desejo imenso de reparar minha falta de ternura e o meu excesso de narcisismo. Assim como ninguém tem o direito de vir me machucar, eu também não tenho o direito de machucar ninguém.
Mas assim como as palavras podem ser verdadeiras pedradas, podem também ser um bálsamo de conforto, alívio e acolhimento. Perdão, gente, pelas minhas palavras de pedra! As que atirei ontem e as que poderei atirar em vocês amanhã. Não sou anjo nem demônio: sou humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário