Não adianta abrir guerra contra o machismo sem antes dar combate ao fundamentalismo de gênero e ao sexismo, pois são eles que dão sustentação ao próprio machismo.
O fundamentalismo de gênero acredita que existem apenas e tão somente duas categorias de gênero – homem e mulher ou masculino e feminino – e que ambas são inexoravelmente determinadas pela genitália presente em cada indivíduo ao nascer.
Para os fundamentalistas de gênero, o sexo determina a categoria de gênero que, por sua vez, é absolutamente imutável ao longo da vida da pessoa. Uma vez classificado como homem, a pessoa tem que morrer como homem, goste ou não disso. E qualquer tentativa do indivíduo, no sentido de rebelar-se contra tal classificação, é considerada como transgressão grave das normas de conduta, sendo prontamente rechaçadas e duramente punidas pela sociedade.
O sexismo, por sua vez, baseia-se na hierarquização e na discriminação das pessoas em função da sua genitália. Historicamente, machos sempre foram considerados superiores às fêmeas em todos os sentidos, de onde resultaram os incômodos e nefastos “privilégios masculinos”, que sempre subjugaram e oprimiram mulheres e pessoas transgêneras e que, até hoje, continuam a vigorar na nossa sociedade.
Não é possível declarar-se anti-machista e no dia-a-dia continuar reconhecendo apenas duas e somente duas categorias de gênero, como não há nenhuma coerência entre manter um discurso irado contra o machismo aprovando tacitamente, quando não desfrutando diretamente, os privilégios sociais políticos, econômicos e até religiosos do homem.
(Letícia Lanz)
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