A pessoa quase me bateu quando eu lhe disse que era ela quem permitia que fizessem aquilo com ela. E me rebateu, visivelmente irritada:
- Você está louca! Quando é que eu ia permitir que alguém me agredisse, me humilhasse, me tratasse de forma grosseira? Eu não tenho outra saída senão aceitar. Infelizmente, não tenho nenhum poder para mudar a minha vida nesse momento.
Parei por ali. Talvez lhe custasse demais, no seu atual estágio de vida, aceitar uma verdade tão contundente: você é a única responsável pela maneira como está sendo tratada pelas outras pessoas.
Quase ninguém percebe que o poder do opressor é tão grande porque a pessoa oprimida não faz absolutamente nada para se livrar da opressão. Pelo contrário, acomoda-se à opressão, acreditando que não tem outro jeito, e com isso mantém e aumenta a força do opressor.
Assim, quando alguém diz que não tem poder para mudar a própria vida (e/ou a vida da comunidade em que vive), quando alguém desiste de realizar as mudanças essenciais no seu estilo de vida, quando se acomoda diante das técnicas de terrorismo dos seus opressores, está apenas delegando a eles o seu próprio poder, a fim de que continuem a exercer sua dominação e opressão sobre ela própria. Paradoxalmente, o que mantém uma pessoa presa a um estado miserável de impotência diante do opressor é a mesma força que poderia livrá-la dessa dominação.
O problema é que dá muito trabalho empoderar-se, despertar esse poder que existe dentro de cada uma de nós e que, por falta de coragem, a maioria acaba delegando aos seus opressores. O problema é que dá muito trabalho fazer esse poder trabalhar a favor da pessoa - e não contra ela, como tem sido até agora. Gera confrontos e desgastes, incômodos e desconfortos que a maioria quer evitar a fim de não se expor nem se comprometer.
Empoderar-se exige substanciais e profundas mudanças de paradigmas e de perspectivas existenciais. Abandonar desconfortáveis "zonas de conforto" em que a maioria se acomoda de maneira passiva e segura, alegando a sua impotência para assumir o comando da própria vida.
É por essas e por outras que grandes e pequenos ditadores de plantão, públicos e privados, continuam a nadar de braçadas na maré da dominação e exploração dos seus cada vez mais numerosos e conformados "súditos", fortalecendo-se cada vez mais para continuar perpetrando o seu repertório de malvadezas sem nenhuma resistência por parte das suas vítimas.
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