Restaurante na China |
Seres humanos são criaturas que excretam. Embora esse seja um aspecto inteiramente natural da sua atividade como seres vivos, tanto as excreções em si como os próprios atos de defecar e urinar são cercados de inúmeros protocolos e regras de conduta, que promovem e enfatizam a vergonha de se excretar, especificando e normatizando processos de se fazer essas coisas da forma mais encoberta, dissimulada, furtiva e secreta possível.
Por mais esdrúxulo que pareça, há um vasto aparato institucional em torno do xixi e do cocô, tão bem satirizado pelo cineasta espanhol Luis Buñuel no seu clássico “O Discreto Charme da Burguesia”, de 1972. Numa das cenas mais antológicas e surrealistas, os convidados se reúnem em torno de uma mesa de jantar onde, em vez de cadeiras, existem vasos sanitários, que eles ocupam com toda pompa e circunstância, fazendo suas necessidades em público, na presença um do outro. Ao contrário, quando desejam comer, vão a um pequeno quartinho, que em tudo por tudo lembra um banheiro, e ali realizam, solitária e ocultamente as suas refeições... Uma crítica feroz e demolidora aos costumes burgueses que validam as relações superficiais entre as pessoas, baseadas em estereótipos e aparências.
No espaço privado da residência doméstica, o aparato institucional da excreção perde muito da sua força coercitiva; no máximo, um usuário de banheiro doméstico poderá será advertido por não levantar a tampa do vaso ou por levar o jornal para ler enquanto defeca.
É no banheiro público e semi-público que esse aparato se faz presente com todo o seu peso de coerção social. Vamos definir o banheiro público como qualquer banheiro localizado fora do âmbito privado, doméstico e residencial. Trata-se de uma definição muito ampla, que abarca uma enorme gama de variações possíveis na configuração básica das instalações.
Sendo parte indispensável do nosso treinamento para viver em sociedade, todo cidadão e cidadã, ao atingir a fase adulta, deve dominar perfeitamente a lógica operacional e os critérios de frequência e... >> continuar a leitura do artigo
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