Consta que Buda se iluminou ao concluir que a única forma de acabar com o sofrimento era acabar com o desejo.
É verdade: quem tem desejo, tem frustração. Mas não sou radical como Buda e acredito mesmo que matar o desejo é a mesma coisa que matar a vontade de viver. Como disse Lacan, o que nos move é a falta e falta é apenas um outro nome para o desejo.
A solução, portanto, não é matar o desejo, mas aprender a lidar com a frustração. E esse é um aprendizado que a cultura ocidental capitalista-cristã, baseada na disputa ferrenha, jamais se empenhará em passar para os seus membros.
Fomos criadas para vencer; a perda definitivamente não está no nosso repertório. De modo que quando ela acontece, a maioria esmorece por completo, cai debilitada e sem forças para se levantar e prosseguir.
Lidar com a frustração é lidar com coisas como a perda, a derrota, o erro, o fracasso e, naturalmente, com nossas imperfeições. Se fôssemos criaturas perfeitas, ganharíamos sempre e não erraríamos nunca. A frustração é irmã gêmea da nossa imperfeição.
Você pode adotar a perspectiva budista de matar o desejo, livrando-se da frustração de uma vez por todas. Ou pode reconhecer e aceitar as suas imperfeições, os seus limites, a sua incapacidade de agradar, de brilhar e de vencer sempre.
Reconheço a complexidade que há em qualquer uma dessas duas jornadas. Matar o desejo é um grau de despojamento existencial somente alcançável por pessoas com um grau avançadíssimo de desenvolvimento espiritual, assim como aprender a lidar com a frustração é um dos pontos cruciais e mais fundamentais do próprio desenvolvimento humano.
Comece pelo segundo, aprendendo a se reconhecer e se aceitar como pessoa humana cada vez que estiver diante de uma frustração. Esse é o processo que chamamos de “perdão” e que consiste em admitir a sua própria fragilidade humana, em vez de considerar-se uma “super-pessoa”.
Acredito mesmo que foi praticando esse autoperdão que o Buda acabou conseguindo extinguir o desejo. Será? Bom, não custa nada tentar.
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