No meio de alguma tempestade existencial, tem sempre alguém para vir nos dizer, com ar de eterna sabedoria: “basta dar tempo ao tempo que tudo se ajeita”. Ainda que essa recomendação possa ser alívio e esperança em tempos difíceis, o tempo, sozinho e por si mesmo, definitivamente não opera nenhum milagre. Muito menos esse, de recolocar as coisas no lugar.
Não há nenhuma evidência que as nossas perdas e traumas possam ser naturalmente curadas com o tempo. Pelo contrário, tudo indica que as coisas piorem e muito, se nada for feito para digerir, pouco a pouco, o que a gente não deu conta de digerir de uma vez só e, portanto, para defesa do nosso próprio aparelho psíquico, tivemos que recalcar.
Com o tempo, as privações, frustrações e perdas não elaboradas podem se tornar e se tornam feridas incuráveis, operando silenciosa e decisivamente para dificultar nossas vidas, a partir da sua condição de traumas reprimidos e recalcados.
Assim, com o tempo, a dor e o sofrimento tendem a aumentar - não a diminuir. A pessoa não esquece: se acomoda. Não são as coisas que se ajeitam, mas ela que se ajeita às coisas, da melhor maneira que consegue. E quando nada é feito para elaborar o luto pela perda, o melhor que uma pessoa consegue é quase sempre algo muito ruim do ponto de vista psíquico.
Assim, com o tempo, a dor e o sofrimento tendem a aumentar - não a diminuir. A pessoa não esquece: se acomoda. Não são as coisas que se ajeitam, mas ela que se ajeita às coisas, da melhor maneira que consegue. E quando nada é feito para elaborar o luto pela perda, o melhor que uma pessoa consegue é quase sempre algo muito ruim do ponto de vista psíquico.
Como eu costumo dizer aos meus analisandos, a fumaça tóxica que hoje nos engasga, está sempre vindo de alguma “fogueirinha” lá de trás que, ao seu tempo, a gente não deu conta de apagar. Neurose é sempre “neurose atualizada”, ou seja, traumas do passado, não resolvidos, acrescidos de juros e correção monetária.
Essa é, sem dúvida alguma, uma das principais funções da análise: ajudar-nos a extinguir as fogueirinhas do passado, fontes geradoras dessas incômodas fumaças que nos impedem de respirar livremente no presente, mediante os três preceitos básicos da psicanálise, estabelecidos por Freud: recordar, repetir e elaborar.
Enfim, para que o tempo opere ao nosso favor, e não contra nós, é preciso muito mais do que essa preguiçosa, passiva e cansativa atividade de deixar o tempo passar. Como uma arqueóloga de mim mesma, é preciso que eu me debruce sobre os fragmentos do passado que o inconsciente permanentemente libera no presente, em doses homeopáticas, e que me fazem continuar a sofrer, cada vez mais sem respiração, completamente dominada pela sua fumaça altamente tóxica.
Só através dessa “atividade reflexiva”, o tempo passa a ter caráter curativo, em vez de ser apenas um poderoso fator de patologização da vida psíquica. Deixado a si mesmo, sem nenhuma humildade para o aprendizado, o tempo não só não cura como vai piorar muito as coisas.
Um comentário:
Amei,quanta saudade de nossos papos na lojinha!bjs
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