Inside the Box by Ark-san on DeviantArt |
Neurótico é a pessoa que pensa que só poderá ficar bem com ela mesma e com o mundo quando se livrar definitivamente de todas as suas dificuldades, o que já é, de longe, a maior dificuldade de todas. Pois é inevitável: estar viva é ter que se defrontar permanentemente com as dificuldades. O único lugar onde não há dificuldades nesse mundo é o cemitério.
Portanto, bem comigo mesma implica, do primeiro ao décimo lugar, pelo menos, em ser capaz de lidar suficientemente bem com as dificuldades que a vida me apresenta.
Mas o neurótico não para por aí. Pode até estar dando conta de lidar com as suas dificuldades mas enxerga alguém que, na opinião dele, não tem dificuldade alguma. E aí a coisa desanda para o lado do “fui esquecido por Deus”, “sou vítima das desigualdades e injustiças do mundo”, etc. etc.
Não é que não haja pessoas que tenham uma vida mais fácil do que outras e só o fato de ter dinheiro já alivia bastante o nosso caldeirão de mal-estar, permanentemente pronto para entrar em ebulição.
Mas é falso acreditar que o dinheiro acabaria de vez com todas as minhas dificuldades. Como também é muito provável que alimentar essa crença seja uma das grandes dificuldades que a pessoa enfrenta, pois isso a desmotiva e imobiliza tremendamente para “se virar” com as outras dificuldades.
Embora isso não justifique de maneira alguma a penúria financeira em que tantas pessoas vivem, resultado de uma sociedade realmente injusta e sacana na distribuição das oportunidades, é necessário lembrar que há pessoas com muito dinheiro e que continuam de mal a pior com elas mesmas e com o mundo.
Estar bem comigo mesma é, portanto, uma questão muito mais psíquica do que bancária. Trata-se essencialmente de uma forma de me ver e de ver o mundo em que as dificuldades não constituem fontes de sofrimento, mas de crescimento.
Isso significa que eu posso usar cada dificuldade que pintar para sofrer, estagnar e apodrecer ou para questionar, criar e crescer. Ou seja, as dificuldades tanto servem para me fazer piorar como pessoa quanto para me fazer melhorar muito.
Depende da minha disposição de “sair das caixinhas” em que a vida em sociedade - e os traumas da vida em sociedade - vai nos colocando e que são os grandes entraves para lidarmos mais eficientemente com as dificuldades que nos aparecem.
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