Conflitos que se originam dos medos e dos desejos inconscientes dos pais podem gerar na criança uma auto-imagem deficitária e fragilizada de si mesma.
Se isso ainda for acompanhado por um discurso parental depreciativo ou ameaçador com relação aos diversos aspectos da sexualidade humana, a personalidade da criança pode ser definitivamente afetada, deixando marcas duradouras tanto na identidade de gênero quanto na orientação sexual que toda pessoa vai construindo desde a sua infância.
Com a sua função histórica de “regulação e vigilância moral” das sociedades, a religião acaba sendo uma muleta, aparentemente muito eficiente, para pessoas em conflito com a própria sexualidade encontrarem alívio e refúgio. A religião provê e exige o cumprimento de normas de conduta sexual que, por mais duras e descabidas que sejam, eximem seus seguidores de ter que fazer escolhas próprias, o que para muitos seria desastroso, tendo em vista suas relações tensas e conflitivas com a própria sexualidade.
A religião provê, também, aos seus seguidores, ferramentas de catarse para os seus conflitos, através da vigilância contínua e da condenação sumária do comportamento sexual de pessoas consideradas desviantes ou devassas, de acordo com os dogmas da sua igreja.
Mas nenhum desses procedimentos é suficientemente eficaz para resolver os conflitos sexuais de uma pessoa em caráter definitivo, o que a obriga a aumentar cada vez mais a frequência e a intensidade das suas ações de autorrepressão, vigilância, aterrorização e condenação de comportamentos sexualmente “desviados”, tornando-a paulatinamente o que chamamos de pessoa religiosa antissexual fanática.
O religioso antissexual fanático apresenta invariavelmente um quadro psíquico de intensa angústia, temor e ansiedade proveniente dos seus próprios conflitos e incertezas quanto à sua orientação sexual. Esse sofrimento, na verdade, é incomparavelmente mais elevado do que o sofrimento que ele atribui aos indivíduos sobre os quais habitualmente projeta seus processos psíquicos conflitivos, como pessoas transgêneras, gays, lésbicas e bissexuais.
Ao contrário do que os religiosos antissexuais alardeiam em suas pregações temerárias e rancorosas, a esmagadora maioria do público LGBT não sente necessidade de nenhum tipo de “cura” ou alívio psíquico para a sua condição, diferentemente deles, que escondem sua dor mental, negando ou projetando nos outros os notórios conflitos ligados ao reconhecimento e aceitação da sua própria sexualidade.
Na raiz da dor psíquica de um religioso antissexual fanático vamos encontrar fantasias inconscientes que classificam o sexo como proibido, sujo, pecaminoso e/ou ameaçador. Essas fantasias tiveram origem em imposições e advertências clássicas, transmitidas à criança pelos pais. Para a criança, especialmente para a criança que continua viva e ativa no adulto, qualquer transgressão das regras impostas pelos pais, ainda que apenas imaginária, implica sempre no risco de perder o afeto dos pais internalizados.
A depreciação e a demonização da sexualidade por parte dos pais, família e escola é internalizada pela criança como uma imagem vergonhosa e culpada do seu próprio corpo, gerando tensões psíquicas com as quais uma pessoa terá de se haver pelo resto da vida.
Em síntese, o religioso antissexual fanático é uma triste consequência da educação sexual precária, equivocada e preconceituosa que, infelizmente, em pleno século XXI, continua a ser ministrada pela maioria das famílias e das escolas, muito provavelmente promovida e patrocinada por religiosos antissexuais fanáticos...
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