Nada mais certo do que as incertezas do mundo contemporâneo. Em nenhum outro período da história, tivemos tanta clareza quanto ao futuro que nos espera.
E não se trata mais de nenhum tipo de “previsão” ou de “visionarismo” histórico, mas de certezas quase absolutas de que, seguindo os caminhos que estamos seguindo, individual e coletivamente, chegaremos fatalmente a lugares, momentos e situações em que nenhum de nós desejaria chegar.
E não se trata mais de nenhum tipo de “previsão” ou de “visionarismo” histórico, mas de certezas quase absolutas de que, seguindo os caminhos que estamos seguindo, individual e coletivamente, chegaremos fatalmente a lugares, momentos e situações em que nenhum de nós desejaria chegar.
Então, se ninguém deseja ir para onde está indo, a passos largos, porque é que continuamos a trilhar os caminhos que fatalmente irão nos levar para onde nenhum de nós quer ir?
Mesmo no meio da mais tenebrosa crise pessoal ou coletiva, ainda é possível a gente se lembrar que outros tipos de vida são possíveis. Que podemos abrir a porta e sair, com todos os custos que essa saída pode representar. Definitivamente não precisamos permanecer a vida inteira do mesmo jeito que sempre fomos, nem fazer as coisas, hoje, exatamente do jeito que fizemos ontem e que, se nada fizermos para mudar, faremos amanhã, de “mamando” a “caducando”.
Só que mudar é a coisa mais difícil que tem. Os estudos de comportamento humano assinalam que, por mais terrível e indesejada que seja o modo atual de vida das pessoas, elas tendem a permanecer indefinidamente atreladas aos mesmos sistemas políticos e aos mesmos estilos de vida, a menos que lhes sobrevenha uma grande catástrofe.
E bota catástrofe nisso! Tem que ser catástrofe mesmo, parruda, daquelas de meter medo em anjo-da-guarda. Para convencer as pessoas de que é preciso mudar o sistema político e/ou o seu modo de vida individual, não vale catastrofezinha besta, não, dessas que nos acostumamos a ver aos montes, todos os dias, no mundo em que vivemos.
Aliás, não faltam os “arautos do medo” que não se cansam de falar na colisão de um meteoro com a terra, tão potente que vai tirar o planeta do seu próprio eixo e transformar a vida dos sobreviventes num inferno. Como se já não fosse hoje, sem nenhum meteoro a vista...
O mais paradoxal de tudo é que vivemos “a era da incerteza”, apesar de vivermos na era da “previsibilidade quase absoluta”, em que é possível antever, com elevadíssimo grau de precisão, os efeitos das nossas ações individuais e coletivas sobre a natureza e sobre a sociedade humana.
O problema é a resistência à mudança. Para a maioria, mais vale um inferno conhecido do que um céu duvidoso, o que leva essa mesma maioria a investir na continuidade dos modelos existentes, em vez de investir em modelos novos. A sociedade e, naturalmente, as pessoas, têm tanto medo e aversão a mudanças que nem terremoto grau 10 na escala Richter, seguido de vários tsunami, é capaz de fazê-las sair do lugar.
O grande receio de quem não quer mudar, de quem tem um medo absurdo da mudança, é a perda dos antigos referenciais binários de certo/errado, homem/mulher, nativo/estrangeiro, preto/branco, cis/trans.
Estamos assistindo à luta do mundo transcultural, transracial, transnacional, translinguístico e transgênero, recém-parido da revolução tecnológica iniciada no final do século XX, lutando para superar o mundo cis-étnico, cis-racial, cis-nacional, cis-linguístico e cisgênero, fantasma tardio da revolução agrícola de 10.000 anos atrás, que ainda teima em impor seu raciocínio binário, completamente falido e deslocado do mundo trans-tudo em que vivemos.
E você, em qual desses mundos você está votando, inclusive ao votar nos seus candidatos a cargos eletivos, ou a passar valores para os seus filhos, ou a defender os seus pontos-de-vista de como a vida deve ser?
Quem é você? Um progressista militante ou um reacionário tentando segurar toda e qualquer pluralidade e diversidade que uma nova era impõe à humanidade?
Para acabar com a sua insegurança, basta olhar atentamente quem você é e quem são a maioria das pessoas que estão à sua volta. Basta olhar para onde vocês estão caminhando, como indivíduos e como sociedades.
Como vêm, não há mistério nenhum em saber para onde estamos indo...
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