O mundo não perdoa quem vive numa boa. Vai contra os princípios da organização social que alguém viva contente, feliz e satisfeito, a despeito de todas as tragédias e dificuldades do mundo atual. Os dispositivos sociais de controle necessitam que as pessoas vivam basicamente infelizes e insatisfeitas, a fim de acreditarem nas promessas, sempre milagrosas, de um mundo melhor - aqui ou, preferencialmente, "do outro lado da vida"...
Ser a pessoa que se é agride um mundo construído para que cada um seja somente um rótulo, um número, uma "identidade". Como a mentira, o fingimento e a dissimulação estão na base da organização sociopolítica, toda pessoa que começa a querer lidar diretamente com a verdade é isolada do grupo e marcada como ameaça à ordem vigente.
Pensar, sentir e agir de forma crítica e independente, com base na própria consciência e no exame criterioso dos fatos, é um procedimento totalmente desestimulado na nossa sociedade, ainda que enaltecido em belos, fingidos e mentirosos discursos feitos pra "inglês ver" ou melhor, ouvir.
Assim, não espere nenhuma revolução social para ser e viver do jeito que você acha que deve ser. Se você quer viver melhor num mundo falso e moralmente hipócrita, você tem que fazer a sua própria revolução, sabendo que não é nada fácil enfrentar um status quo rigidamente instalado, duramente arraigado no comportamento das pessoas. Aguarde olhares terríveis. Aguarde isolamentos homéricos. Aguarde solidões imensas, abandono, desacolhimentos, intolerância e exclusão.
Não espere que as pessoas à sua volta apoiem seus movimentos de mudança, as suas iniciativas de ser quem você é. Muito pelo contrário, o mais provável é que todos estranhem e combatam, de forma sutil ou contundente, a sua eventual determinação em sair das “caixinhas”, em vencer a inércia, em deixar o marasmo para se afirmar como pessoa única nesse mundo, passando a viver a vida do jeito que você acha que ela tem que ser vivida.
Exceto em livros de autoajuda, discurso de pastor da teologia da prosperidade e promessa de político populista em campanha, o mundo não é e nunca foi nenhum parque de diversões. Mas isso não quer dizer que você tenha que viver permanentemente em crise, sofrendo com issotudoquetaí. E não vai ser ficando ruim e pra baixo que você vai ajudar o mundo a melhorar. O que eles querem é exatamente que você fique mal, se sinta feia, burra, incapaz, impotente e sem esperança. É aí que eles montam. Não dê a eles esse prazer. Pelo contrário. Abra um sorriso lindo, vista a melhor roupa que você tem, suba no seu salto alto e não desça dele, em hipótese nenhuma.
3 comentários:
Nós, artistas, sentimos isso na pele. As pessoas não aceitam a liberdade do outro. Parabéns pelo texto, abç!
Uau!
Ainda esta noite, antes de dormir pensei nisso. As pessoas mal imaginam as batalhas que travo para manter meu sorriso. Não diminuo minhas dores, apenas não as coloco como eixo principal. Eu as diluo com uma dose de positividade. E não me torno superficial por isso, apenas digo a mim que vai passar. Tudo passa.
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