“A ideologia da desigualdade de gênero”, defendida por setores ultraconservadores da igreja católica e setores oportunistas-reacionários do evangelismo neo-pentecostal é uma crença na supremacia absoluta do homem branco, heterossexual e cristão sobre a mulher, que deve permanecer subalterna e submissa aos desejos do macho, de acordo com os preceitos bíblicos do velho testamento.
Essa ideologia da desigualdade de gênero, que tem vigorado no mundo nos últimos 10.000 anos dá ao homem o direito até mesmo de bater e de violentar a mulher, pois esse é o “desejo do Senhor”, claramente expresso na bíblia, que é a fonte, aliás, a única fonte dessa crença estapafúrdia.
Ao estabelecer uma suposta superioridade do homem sobre a mulher, superioridade essa que reinou absoluta até o início do século XX, quando a mulher começou a se libertar do domínio masculino, a ideologia da desigualdade de gênero sequestra e rouba a igualdade que deve existir entre todos os seres humanos, indo contra as grandes conquistas dos direitos humanos no século XX.
A ciência refuta terminantemente qualquer suposta superioridade do homem sobre a mulher, fato que foi notoriamente forjado através de habilidosas construções sociais em que o homem foi colocado como centro da história e da civilização, excluindo totalmente a participação e a contribuição da mulher.
Além disso, nenhuma criança nasce homem ou mulher: nasce macho ou fêmea e é a posse de um órgão genital que condiciona a iniciação e o aprendizado dos atributos e papeis de homem ou de mulher na sociedade. Como afirmou Simone de Beauvoir, ninguém nasce mulher (ou homem): aprende a ser. Assim, é um total contrassenso defender que o comportamento masculino – de dominação – ou o feminino – de submissão – são “herdados” da natureza.
A ideologia da desigualdade de gênero é uma das formas que o conservadorismo reacionário está empregando para assegurar a opressão masculina sobre a mulher e sobre a família, tentando resgatar para o homem coisas como “pátrio poder” e “chefe de família”, atributos há muito tempo extintos nas próprias leis do país, mas que os biblistas insistem em manter a ferro e fogo por força da sua fé religiosa. Por isso a ideologia da desigualdade de gênero, baseada na vontade de Deus, para eles contida na bíblia cristã, é uma das formas de impedir os avanços dos direitos humanos em termos de constituição da família com outras formações além do homem dominador e da mulher e filhos subalternos.
Os “igrejeiros” entenderam que o último reduto de autoridade do homem é a família, coisa que já não ocorre há muito tempo e que só permanece viva nos seus devaneios reacionários-religiosos. Então querem resgatar a “família bíblica”, dominada inteiramente pelo homem, para manter a sociedade patriarcal, dominada por uma “elite” político-religiosa”, dentro de um estado totalmente teocrático.
Fiquem atentos: os arautos da “ideologia da desigualdade de gênero” disfarçam suas nojentas pretensões hegemônicas de dominação masculina falando de uma suposta “ideologia de gênero”. Mas gênero, como sabemos, é o mais forte elemento constituidor da sociedade humana, sobre o qual repousa o imenso castelo institucional da sociedade. Gênero não é e nunca foi uma “ideologia” como, muito ao contrário, é a deles, a da “desigualdade de gênero”, precariamente baseada em coisas totalmente subjetivas como fé religiosa, sem nenhuma base empírica.
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