Sexo é a coisa mais vulgar e mais sublime que existe, a mais divina e a mais mundana, a que mais escraviza e a que tem maior potencial de libertação do ser humano. Freud compreendeu isso quando centrou toda a psicanálise na libido, a energia sexual que circula em todos os seres humanos e que, segundo ele, precisa ser “reprimida” e controlada a fim de que exista a vida em sociedade.
Reich foi ainda mais longe, afirmando que a energia sexual governa a própria estrutura dos sentimentos e dos pensamentos humanos. Para ele sexo é tudo, sendo que esse tudo não é nenhuma força de expressão, mas significa tudo mesmo.
Milênios antes de Freud e Reich, os hindus já conheciam o Tantra, a prática religiosa que visa entrar em comunhão e harmonia com o Cosmos através das atividades sexuais. O Tantra conhece como ninguém a energia de “kundalini”, a serpente sexual presente em todo ser humano, capaz de iluminar ou de enlouquecer uma pessoa.
Através do sexo se chega a Deus, mas também se chega facilmente ao diabo.
Diante dessa força gigantesca e descomunal do sexo, a maior parte das práticas religiosas ocidentais, particularmente as chamadas “religiões do livro” (judaísmo, cristianismo e islamismo) criaram formas de manter seus adeptos o mais afastados possível do sexo, para eles um contato perigosíssimo.
E não lhes tiro inteiramente a razão. A despeito de ser um modelo essencialmente fascista de controle dos seguidores através da regulação do sexo, eles estão cobertos de razão: se o sexo cair “nas mãos erradas” pode provocar mais estragos no ser humano do que uma centena de doenças infecto-contagiosas, juntas. O problema é que, justamente para “não cair nas mãos erradas”, os sacerdotes dessas religiões concentraram a questão sexual em mãos mais erradas ainda: as deles próprias.
O fato número um a respeito de sexo é que ninguém, exceto um número muito pequeno de “iniciados” e “descolados”, consegue fazer sexo com o grau de liberdade, consciência e prazer que o sexo requer para ser um instrumento de crescimento e libertação e não uma prática ordinária de gozo mundano e vulgar.
O fato número dois é que o aprendizado de sexo não pode ser dado nem por profissionais de saúde, “especialistas em sexo”, nem pela maioria esmagadora das religiões. A exceção do Tantra e de certas tradições da Magia, ninguém está apto e muito menos se sente à vontade de falar de sexo da maneira natural e espontânea que o sexo é. De tal forma que grande parte do que as pessoas sabem sobre sexo ou é baseado em especulações sem nenhum fundamento, vulgaridades pornográficas, crenças e teoria completamente esdrúxulas ou em absurdas proibições religiosas.
O fato número três é que, paradoxalmente, todo mundo já sabe, de forma absolutamente natural, tudo que é preciso saber sobre sexo. Na verdade, o esforço da sociedade e das religiões é para fazer as pessoas reprimirem, recalcarem, ocultarem e esquecerem tudo que já nascem sabendo sobre sexo. Assim, não há nada a ser “aprendido” sobre sexo, mas uma tonelada de coisas a serem “desaprendidas”.
Quem teve a sorte incrível de fazer sexo de qualidade pelo menos uma vez na vida, entende perfeitamente a minha fala. Quem não teve, que está viciado em sexo tipo tensão-penetração-gozo-relaxamento ou, pior, que está completamente distanciado da energia sexual por mecanismos de vergonha, culpa e autopunição, não vai fazer a menor ideia do que eu estou falando e vai até evitar ler o que eu escrevi, temendo as “represálias” de Deus e da sociedade, o que, no fundo, é a mesmíssima coisa.
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