As três religiões conhecidas como religiões “do livro” – judaísmo, cristianismo e islamismo podem ser considerada como “instituições patriarcais-machistas” por excelência em que mulheres desempenham, se tanto, distantes quintos lugares na composição e na hierarquia clerical. A rigor, tratam-se de verdadeiros “clubes do Bolinha”, onde mulher não entra.
A doutrina dessas religiões baseia-se fundamentalmente na superioridade do homem, criado à própria imagem e semelhança de Deus (na verdade é o contrário...) e tendo a mulher como um incômodo apêndice que, de uma hora para outra, nos últimos 100 anos, resolveu “supurar” graças à influência nociva e maléfica de teorias feministas “esquerdistas”, feitas para “desagregar a família” (leia-se desalojar o homem do poder).
Sendo assim tão excludente com relação à mulher na sua própria origem e constituição, a igreja não é nem um pouco recomendada e muito menos autorizada a falar dos interesses das mulheres. Pelo contrário, está claro que a religião fará de tudo um pouco para aviltar, achincalhar, degradar, depreciar, desacreditar, desprezar, diminuir, enxovalhar, infamar, menosprezar, perverter e vilipendiar as demandas femininas pela ocupação do seu espaço nesse mundo.
Tal é o propósito da criação e divulgação da chamada “ideologia de gênero”, por setores ultraconservadores da igreja católica. Essa “ideologia de gênero” nega a separação radical que existe entre sexo biológico e gênero, sendo o sexo biológico “herdado” da natureza e o gênero compulsoriamente ensinado pela sociedade. Padres, bispos e cardeais, todos homens, não uma mulher sequer nos seus quadros, afirmam abertamente que alguém é mulher porque “nasceu” mulher, por vontade e obra do Criador – e não por determinação da sociedade e época em que a pessoa nasceu, como afirmou Simone de Beauvoir (que eles odeiam) em 1949, ao dizer que ninguém nasce mulher (nem homem): aprende a ser.
Espertamente, porém, os estrambóticos religiosos defensores dos fundamentos do patriarcado-machista defendem que “ideologia de gênero” é exatamente o contrário da suas crenças estapafúrdias, ou seja, para eles todo mundo já nasce pronto e acabado como homem e como mulher e não nenhuma influência da família, da escola e da sociedade na constituição da personalidade e do comportamento de cada pessoa. Que essa tese seria uma “invenção” do feminismo, aliado aos devaneios do movimento transgênero, do movimento dos gays, dos negros, etc., destinado a “minar” as bases da “família” patriarcal (leia-se: aquele núcleo de pessoas onde o homem manda e desmanda e o resto obedece passivamente, se tiver juízo...)
A “ideologia de gênero” é, portanto, uma produção dos religiosos, baseada na bíblia, e que não encontra a menor sustentação nem na biologia, nem na genética, nem na sociologia e na antropologia contemporânea. A pessoa nasce inteiramente “desaculturada”, ou seja, totalmente desapetrechada para viver nesse mundo, independentemente de ter um pinto ou uma xoxota. Tudo que ela vai ser, ela deverá aprender a ser, através de um lento e ininterrupto processo de socialização que é, verdadeiramente, o que a transforma em “homem” e “mulher” na sociedade. Não é contrário, como pregam os religiosos ultraconservadores, como se a presença de um pênis ou de uma vagina automaticamente produzisse um homem ou uma mulher do ponto de vista sociopolítico-cultural.
A “ideologia de gênero” dos religiosos, que não tem a menor sustentação no mundo real, baseia-se pura e simplesmente na fé bíblica de que homem e mulher já nascem prontos e que o homem é infinitamente superior à mulher. Talvez até o século XIX esses religiosos tivessem poder suficiente para garantir a sua audiência através da imposição baseada na força e no medo do “castigo divino”. Duvido que hoje em dia eles encontrem público, exceto entre eles mesmos e naqueles segmentos da sociedades preguiçosos ou burros demais para olhar os fatos do mundo à sua volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário