Autorrejeição é um processo absolutamente devastador da saúde e do equilíbrio da psique. De modo simplificado, consiste na veemente e contínua negação de algo que existe numa pessoa ou que acontece com ela, que lhe desperta insatisfação e repúdio em graus intoleráveis, podendo leva-la ao extremo de práticas altamente mórbidas e nocivas, na própria pessoa (suicídio) ou em outrem (assassinato).
Podemos classificar como autorrejeição:
- a rejeição da pessoa pela existência, funcionalidade e/ou estética de um órgão, de uma parte do corpo ou de todo o corpo;
- a rejeição pelo rótulo de gênero (homem ou mulher) que lhe foi atribuído ao nascer em função do seu sexo genital;
- a rejeição por sua própria modalidade de orientação sexual, especialmente quando esta não é estritamente heterossexual.
- a rejeição de qualquer “outro” capaz de expressar e de viver confortavelmente com características e atributos que a pessoa
autorrejeita nela mesma.
Note-se que a autorrejeição não surge "espontaneamente" nos indivíduos, mas resulta de mecanismos sociais de condicionamento e repressão a que todas as pessoas estão sujeitas em nome de serem "educadas" para a vida em sociedade.
É muito comum que indivíduos sofrendo de fortes processos de autorrejeição tornem-se extremamente moralistas e cruéis com pessoas que eles consideram “espelhos” das suas autorrejeições. Via de regra, valem-se de “posições de poder na sociedade”, como profissões na área de saúde, cargos políticos e eclesiásticos para desviar o peso da sua autorrejeição para outros indivíduos. Estão nesse grupo médicos, psicanalistas, psicólogos, padres e pastores que “condenam” e “repudiam” de forma agressiva, grotesca e até violenta, por exemplo, a condição transgênera (transfobia) ou a homossexualidade de outras pessoas (homofobia).
A “cura” da autorrejeição é, naturalmente, a autoaceitação. Mas é bom frisar que a transição de uma posição de autorrejeição para uma posição de autoaceitação raramente acontece de forma natural e espontânea dependendo, na quase totalidade dos casos, de um forte apoio psicoterapêutico. O problema é que o indivíduo que sofre de autorrejeição também rejeita terminantemente estar com algum tipo de conflito psíquico precisando ser tratado. Ele se vê tão somente combatendo o "mal" na sociedade, que é o mesmo mal que não aceita em si mesmo.
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