O mal desse país sempre foi o excesso de ufanismo e a escassez de ativismo, ou seja, de luta consciente e responsável por aquilo que se quer. O ufanismo é aquela visão de mundo que consegue enxergar assombrosas conquistas em feitos insignificantes, e a transformar a total falta de horizontes em belos e deslumbrantes futuros.
Acostumada tanto a tomar porradas de religiosos fundamentalistas e de políticos reacionários, quanto a receber migalhas da sociedade, a população transgênera do país se tornando incorrigivelmente ufanista, celebrando qualquer esmola em generosa recompensa.
Mesmo sabendo que o ufanismo possa funcionar como uma defesa psicológica contra o excesso de frustrações e privações - a alternativa seria a angústia e a depressão - é necessário manter aceso o espírito de luta, voltado para o resgate de direitos civis que a sociedade civil tem a obrigação de suprir a todas as pessoas, inclusive às pessoas transgêneras.
Ser transgênero é normal e é legal: transgeneridade não é crime nem doença mental. Portanto, não há nenhum motivo para se continuar negando os direitos civis da população trans, além dos insuportáveis níveis de preconceito e discriminação de setores extremamente conservadores e retrógrados da sociedade que, evidentemente, não representam a opinião unânime da sociedade civil.
Continuo sem os meus direitos civis. O direito básico, por exemplo, de entrar em um cartório e solicitar a mudança do meu nome civil para corresponder à identidade de gênero com a qual eu me apresento no dia-a-dia e pela qual eu sou reconhecida. Direito que já está em vigor há vários anos na Argentina e no Uruguai, nossos vizinhos mais próximos.
Não venham fazer apologia do uso do nome social como se uma grande conquista da população trans do país. Não é. Não existe em lugar nenhum do mundo, exceto aqui. E, a rigor, não serve para nada.
(Letícia Lanz)
(Letícia Lanz)
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