The Art of Human Essence - do escultor Antony Gormley |
Cada pessoa que chega a este mundo traz com ela algo muito especial que eu chamo de essência da própria pessoa.
Ao contrário do que as pessoas pensam, essa essência não é feminina nem masculina, pois não está ligada a sexo. Essa essência é simplesmente humana. A sociedade vai fazer tudo para reduzir e enquadrar essa essência em alguma categoria inteligível.
O problema é que, a partir do momento mesmo em que somos concebidas, a essência única que trazemos dentro de nós é forçada a enquadrar-se aos modelos do que deve ser e como deve atuar um indivíduo macho e um indivíduo fêmea na sociedade, respectivamente nomeados como "homem" e "mulher", exclusivamente em função da sua genitália.
Ser homem e ser mulher não é um determinismo biológico como alegam os fundamentalistas religiosos, mas um arranjo da sociedade, produzido em função do sexo biológico de cada indivíduo. Quem nasce com um pênis é obrigado a se enquadrar como homem, assim como quem nasce com uma vagina deve se enquadrar como mulher, ainda que a essência individual da pessoa não tenha nenhuma afinidade com o modo masculino ou com o modo feminino de ser.
É assim, dessa forma unilateral, arbitrária, arrogante, ditatorial e impositiva, seguida de um extenso e contínuo programa de aprendizado, controle e permanente vigilância social, que cada pessoa se torna e se mantém homem ou mulher ao longo da sua vida. Qualquer desvio desse arranjo é prontamente repelido e duramente punido pela sociedade.
Quando eu cheguei a este mundo, como acontece com cada um de nós, eu trouxe uma "essência de mim mesma", algo único para cada ser humano. É essa "essência" que faz com que eu seja a pessoa que eu sou, independentemente de qualquer rótulo de gênero que a sociedade tenha colocado em mim em função da minha genitália.
A essência que eu trouxe, que toda pessoa traz, não é nem masculina nem feminina: ela é humana e como tal absolutamente neutra e resistente a qualquer tipo de classificação arbitrária imposta pela sociedade, sob o ardiloso - e mentiroso - pretexto de se tratar de uma inexorável disposição da natureza.
(Letícia Lanz)
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