A maior parte do que acreditamos ser “nós mesmas”, coisas que chamamos de nossos pensamentos, sentimentos, desejos e atribulações, não passam de “colagens” que fomos fazendo ao longo da vida, a partir de modelos e parâmetros fornecidos pela sociedade.
Assim, quando alguém afirma tão categoricamente “eu sou isso”, “eu penso isso”, “eu sinto isso”, “essa é a minha opinião”, está apenas dizendo que incorporou, à sua própria existência individual, certos padrões e definições - rótulos - existentes dentro da própria sociedade em que vive.
Para que alguém pudesse fazer afirmações categóricas sobre quem é, o que pensa e o que sente, e suas afirmações tivessem fundamento real, seria necessário que a pessoa tivesse feito com ela mesma um exaustíssimo trabalho de remoção das crenças, ideias, marcas, padrões e modelos de conduta que a sociedade nos impõe a todas, desde antes de chegarmos a esse mundo, ainda no útero de nossas mães e até que a gente morra.
Sem ter feito esse profundo exame de consciência e gigantesca “limpeza de área”, a pessoa que faz afirmações categóricas do tipo “eu sou isso”, “eu penso assim”, “é assim que eu me sinto”, vive permanentemente em risco de surto psicótico, uma vez que fatalmente vai acabar descobrindo eventualmente não ser nada daquilo que julgava ser, com tanta convicção.
Saber distinguir “fantasia” de “realidade” é o primeiro sintoma de juízo perfeito. Mas, infelizmente, só quem se encontra em juízo perfeito é capaz de fazer tal distinção.
(Letícia Lanz)
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