quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Estudos Transgêneros: uma brevíssima introdução



Porque é preciso lembrar essas coisas todos os dias. Como água mole que, de tanto bater, acaba furando a pedra, fora e sobretudo dentro do gueto. Desfrutem e divulguem.

Letícia Lanz, 14-09-2016.





Orientação Sexual 

1. Nem todos os homens têm atração por mulheres. 
2. Nem todas as mulheres têm atração por homens. 
3. Muitos homens têm atração por outros homens. 
4. Muitas mulheres têm atração por outras mulheres. 
5. Muitas pessoas têm atração por homens e por mulheres. 
6. Muitas pessoas não têm nenhum interesse em sexo, nem com homens, nem com mulheres. 

Transgênero e cisgênero 

7. Transgênero não é uma identidade de gênero, mas a condição sociopolítica de transgressão das normas binárias de gênero. 
8. O oposto de transgênero é cisgênero que também não é uma identidade, mas a condição sociopolítica de conformidade com as normas binárias de gênero. 
9. Só existem duas identidades cisgêneras: homem e mulher. 
10. Existem infinitas identidades gênero-divergentes ou transgêneras: transexual, transhomem, travesti, crossdresser, não-binário, dragqueen, transformista, andrógino, intersexual, etc. 
11. A única característica comum a todas as identidades gênero-divergentes é a transgressão ou a não-conformidade das normas binárias de gênero. 
12. É da transgressão das normas de conduta de gênero em vigor na nossa sociedade – e de nenhum outro aspecto em particular – que surge o repúdio, a condenação, a punição e o estigma sobre a população transgênera. 
13. É por causa da transgressão que as pessoas transgêneras sofrem todas as formas de violência física e moral, com notória perda de status, de direitos, de oportunidades e de vantagens, relativamente às pessoas cisgêneras. 
14. É por causa da transgressão que a transgeneridade é objeto de medicalização e judicialização, ou seja, as pessoas transgêneras são tratadas como doentes ou como delinquentes (lembrando que também são tratadas como pecadoras pela maioria das religiões do planeta). 

Gênero e Orientação Sexual

15. Transgeneridade não é sinônimo de homossexualidade, como não implica de maneira alguma em homossexualidade. 
16. A pessoa transgênera não é um tipo particular de homossexual como, infelizmente, estacionados no tempo e no espaço, ainda insiste grande número de profissionais de saúde, da educação e do direito do nosso país, assim como, erradamente, supõem inúmeros estudos e pesquisas acadêmicas. 
17. Segundo a OMS, a orientação sexual da população transgênera segue, a rigor, o mesmo perfil de orientação sexual verificado na população cisgênera: 70 a 75% de pessoas que se declaram heterossexuais; 10 a 15% de pessoas que se declaram homossexuais; 5 a 10% de pessoas que se declaram bissexuais e 1 a 5% de pessoas que se declaram assexuais. 

Conclusões 

18. Ser transgênero é normal e é legal; não existe absolutamente nada de errado com a condição transgênera. 
19. Não se trata de doença mental, como pretenderam inúmeros estudiosos a partir do final do século XIX nem de desvio de conduta moral, como ainda insistem religiosos de todos os naipes e confissões. 
20. A única coisa que está errada é a milenar distribuição e hierarquização das pessoas em duas e somente duas categorias de gênero, em função exclusivamente da genitália aparente de cada pessoa ao chegar a esse mundo. 
21. É essa norma de enquadramento que produz, artificialmente, o desvio de conduta das pessoas que, pelos motivos mais variados do mundo, não conseguem se manter dentro dela tornando-se, assim, transgressoras da ordem social vigente. 
22. Libertar a população transgênera do peso da exclusão, da violência e do estigma implica unicamente em “revogar-se” o dispositivo binário de gênero, de modo a permitir que prevaleça a identidade de gênero com a qual a pessoa se identifica e não aquela em que ela foi compulsoriamente enquadrada ao nascer.