Aí a pessoa faz toda aquela superprodução, digna de filme de Hollywood, e protagoniza uma das suas fantasias mais queridas e adoradas. Aí o orgasmo vem e a pessoa, em vez de desfrutar, mergulha na mais profunda culpa por ter realizado a sua fantasia.
Nesse ponto, toda a gostosura que foi aquele sexo vai pro sal. Em vez do sonhado “desejo realizado”, a pessoa entra em depressão.
Sexo e culpa sempre andaram juntos na nossa gloriosa sociedade judaico-cristã, em que sexo só deve ser feito entre um homem e uma mulher legalmente casados, mulher (direita) não deve gozar jamais e o orgasmo masculino só deve servir à causa da procriação. Qualquer variação nessa aborrecida e idiota cantilena “bitonal” condena a pessoa ao inferno ou, em tempos da tal revolução sexual que nunca houve, a terríveis dramas de consciência.
Coisa complicadérrima disciplinar o sexo, a mais caótica, rebelde e desordenada atividade humana. Nos tempos bíblicos, as interdições e maldições divinas parecem ter funcionado divinamente bem para segurar os impulsos selvagens e libidinosos da galera. Tempos bíblicos que, no caso brasileiro, o atraso mental e a imbecilidade conseguiram trazer para esse “pós-tudo” século XXI.
De jeito que, para muita gente, boa e má, crente e ateia, ainda vale o “sexo apenas depois do matrimônio”. Sem casamento, só selinho; beijo de língua, nem pensar.
Essa regulamentação do sexo, que até o próprio Freud enxergava, mesmo a contragosto, como fundamental para a existência da vida em sociedade, foi e continua sendo causa de muita insatisfação e angústia existencial.
Sozinha ou acompanhada, gente precisa fazer sexo: está no nosso implacável programa biológico. Alguns mais, outros menos, e uns poucos nada, fato é que a grande maioria das pessoas precisa de sexo como precisa de água, ar e alimento.
Exceto na cabeça de religiosos fundamentalistas retrógrados, o sexo entre um homem e uma mulher, e apenas no matrimônio, está longe de ser a única forma de se fazer sexo. Do
ponto de vista da satisfação psíquica, toda forma de sexo vale super a
pena e cumpre sua função, ao mesmo tempo relaxante e energizadora.
Mas é bom ter em vista que isso não obriga ninguém a sair desembestado, procurando todas as formas possíveis e imagináveis de se fazer sexo e/ou multiplicando exponencialmente o número de parcerias sexuais. Antes do sexo ser MUITO, ele tem que ser BOM. Antes de ser feito com MULTIDÕES, ele deve ser feito com PESSOAS CAPAZES DE DAR E DE RECEBER PRAZER. Mas, principalmente e acima de tudo, para ser recompensador, o sexo precisa ser feito SEM CULPA, ou seja, sem vergonha de se sentir prazer.
Ah, sim: depois de eu dizer isso tudo, você deve estar aí se perguntando como se livrar da culpa na hora de fazer sexo. E essa é a parte mais chata deste artigo. Diferentemente de poções miraculosas ou doses cavalares de viagra para "incrementar" o sexo, não há nenhuma fórmula mágica ou medicamento para se livrar da culpa de se fazer sexo.
Somos uma sociedade constituída sob a égide da culpa, portanto na total contramão do prazer. E essa ditadura da culpa é tão sutil e sacana que, hipocritamente, a sociedade chega a divulgar e até mesmo convencer as pessoas a buscar o prazer em todas as suas formas. Tudo de araque, é claro. Puro engambelo coletivo. Se a busca do prazer for levada realmente a sério, a pessoa vai acabar sendo vista como marginal e desviada, pois a sociedade não está a fim de perder o seu principal instrumento de controle sobre o comportamento das pessoas, que é a culpa.
Quem sabe que, com bastante sorte, cara de pau e tempo de análise (que pode ser anos ou décadas) você possa, um dia, se ver livre da culpa na hora de fazer sexo. Pelo menos na hora de fazer sexo.
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