Todas as pessoas são diferentes umas das outras, se por mais não fosse, pelo simples fato da natureza odiar a mesmice e a repetição, teimando em fazer cada pessoa de um jeito, até mesmo os gêmeos univitelinos, aqueles que vêm de um mesmo e único óvulo e que, por isso mesmo, “deveriam” ser absolutamente iguais.
“Deveriam”, mas não são. Mas por que “deveriam” ser? Simplesmente porque alguém resolveu criar, por sua própria conta e risco, uma teoria qualquer em que são estabelecidas regras para o funcionamento da natureza, completamente à revelia da natureza.
Embora seja o cúmulo da presunção alguém imaginar que a natureza irá se render, sem pestanejar, às normas de funcionamento da natureza estabelecidas pela sua teoria, é isso que acontece com a maior parte dos seguidores de doutrinas, ideologias e religiões que são criadas e mantidas em total divórcio com a realidade dos fatos, sendo nada mais do que mitologias especulativas, sem nenhum fundamento empírico, a respeito dessa mesma realidade.
O problema é que quando a religião ou doutrina “científica” não se enquadra na realidade dos fatos, seus presunçosos e arrogantes seguidores resolvem decretar, unilateralmente, não a falência dessas ideologias, mas a falência da realidade dos fatos! Ou seja, se as regras ditadas pelo sistema de pensamento não se enquadrarem na realidade, azar da realidade: o sistema está certo e a realidade, naturalmente, errada...
Diante dos tremendos impasses entre as balelas doutrinárias, ancoradas em dogmas sem nenhum fundamento, e o coice contínuo da realidade dos fatos, os seguidores de uma religião ou defensores de uma teoria estrambótica (que, no fundo, são a mesma coisa) têm a tarefa permanente e contínua de negar a realidade do mundo real, deslegitimando, sem nenhum escrúpulo ou pudor, a verdade dos fatos que desfilam, o tempo todo, diante do seu nariz.
Não é tarefa fácil “domar” a realidade, a fim de mantê-la enquadrada e submissa às “regras de funcionamento da realidade” estabelecidas por uma doutrina religiosa ou “científica”. Qualquer comportamento, fenômeno ou ocorrência do dia-a-dia, por mínimo que seja, que fugir aos dogmas estabelecidos pela doutrina, deverá ser dura e prontamente deslegitimado, negado, condenado e punido, sob pena de colocar em risco a “verdade absoluta” representada pelos dogmas doutrinários.
Essa paranoia facilmente se converte num processo interminável de caça às bruxas, em que qualquer manifestação supostamente contrária ou ameaçadora à integridade dos dogmas defendidos pela religião deverá ser prontamente reprimida e eliminada mediante, inclusive, o uso de métodos violentos.
Assim, se o dogma religioso ou “científico” diz que “não existe” homossexualidade nem transgeneridade, por exemplo, será preciso varrer do mapa qualquer registro que indique a existência de pessoas homossexuais e/ou de pessoas transgêneras.
A fim de garantirem a “verdade absoluta” dos seus dogmas, os seguidores da doutrina quererão “curar” as pessoas homossexuais e/ou as pessoas transgêneras que insistem em infringir as regras de funcionamento que o seu culto estabelece para a realidade. Na pior das hipóteses, se tiverem poder, irão simplesmente eliminá-los do convívio com as pessoas conformes e “normais”.
É por isso que uma pessoa “não-conforme” com os dispositivos regulatórios da realidade, impostos por uma doutrina, incomoda tanto os seguidores dessa mesma doutrina. Essa pessoa coloca em risco a crença cega na verdade absoluta dos dogmas, pondo em cheque os próprios dogmas, através do seu comportamento francamente transgressivo. Essa pessoa desconstrói, pelo exemplo da sua própria existência, os marcos regulatórios fixados pela doutrina e “cobrados” sistematicamente dos seguidores. Essa pessoa demonstra que pode existir e existe vida e verdade fora da camisa-de-força doutrinária. Em suma, essa pessoa é um perigo total para o tão “harmonioso” quanto falso “ordenamento do mundo”, proporcionado pela crença religiosa ou determinismo “científico”.
Um comentário:
Bárbara reflexão a cerca das verdades absolutas e dogmas religiosos, que só servem para manter a "ordem" imposta socialmente, para controlar o comportamento que foge aos preceitos ditos normais e enquadrados nessas lógicas reacionárias e preconceituosas de certas religiões que insistem em ditar normas de condutas e comportamentos, dissociados das realidades e necessidades humanas.
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