A caretice é feita de pessoas que se agarram feito craca de navio aos convencionalismos, fundamentalismos, puritanismos e moralismos mais bestas e retrógrados possíveis, que assegura aquela fachada solene de faraós embalsamados a todos os caretas.
Ainda que completamente deslocado no tempo, o careta insiste em intervir no presente com ferramentas ridiculamente atrasadas e inadequadas para o tratamento das grandes questões humanas atuais.
Careta vive “do passado” e “no passado”, analisando e tirando conclusões sobre fenômenos e estilos de vida atuais a partir de práticas, costumes, valores, épocas, lugares e pessoas que não têm a menor relação com o que está acontecendo no mundo de hoje.
Embora faça questão de se apresentar publicamente como ardoroso guardião da ordem e dos costumes, o careta não passa de um histérico e delirante adorador de fósseis, fanaticamente ancorado em crenças e comportamentos “imexíveis”, apesar de totalmente inadequados à sociedade contemporânea.
A caretice entende que só existe ordem no conservadorismo, no reacionarismo, no fanatismo e em todas as formas de estagnação e retrocesso patrocinadas pelo patriarcado machista pré-histórico que sobrevive por aí, violentando corpos, corações e mentes com a mesma arrogância e burrice de sempre.
Ao defender, com tanta intransigência, a continuidade de estruturas viciadas e caducas, a caretice transforma importantes instituições e mecanismos de organização social – como a justiça, a família, o governo, a escola, a religião e o trabalho – em estruturas altamente opressivas e sufocantes à liberdade individual.
Independentemente de partido político, a caretice defende e apoia incondicionalmente o status-quo careta que, embora cada vez mais degradado e defasado no tempo, continua proporcionando vantagens e privilégios para aos caretas e picaretas, que combatem e suspeitam de toda e qualquer mudança sociopolítica da sociedade , considerando-a como grave ameaça à ordem vigente.
Historicamente, a caretice sempre contou com uma massa enorme de seguidores em todas as épocas e lugares, por que não há nenhum risco ou esforço extra para ser careta e agir de modo careta. contra uma meia-dúzia de gatos pingados militando na vanguarda.
Basta botar o rabinho entre as pernas, baixar a cabeça e sair sempre de fininho, sem dizer nada, sem contestar nada, sem propor nada e sem defender nada que não seja a permanência incondicional da caretice no seu estado de sempre. Basta receber e assimilar e absorver passivamente todas as pressões sociais para manter-se dentro do conformismo e da alienação, a serviço da babaquice, da cretinice e da mesmice de sempre. Evidentemente, em troca de gozar todas as prerrogativas e vantagens concedidas aos caretas...
Basta concordar, apoiar e obedecer a ordem vigente, pelo menos na conduta aparente já que, debaixo dos panos, os caretas costumam praticar sem nenhum pudor exatamente o que mais condenam no seu discurso moralizante da sociedade. Isso leva à conclusão de que ninguém é careta por escolha e convicção próprias, mas por oportunismo e esperteza, de olho nas vantagens oferecidas pelo “sistema” para quem se mostra atrelado a ele.
Para os caretas, caretice é sinônimo de normalidade, ou seja, para alguém ser considerado normal, é preciso ser careta. E quanto mais careta, ou seja, quanto mais enquadrada, alienada e submissa ao sistema a pessoa for, mais destacada e reverenciada será, dentro do contexto sociopolítico-cultural absolutamente hipócrita da sociedade careta em que vive.
Ao contrário, dá um trabalhão danado, tem um risco altíssimo e traz muita dor-de-cabeça aderir à vanguarda, descolar-se, tornar-se uma pessoa revolucionária e progressista. A sociedade coloca todo tipo de restrição e obstáculo no caminho de quem se propõe a pensar, sentir e fazer de modo diferente do que é amplamente defendido pela caretice vigente.
Mesmo que não sejam mais vítimas de terríveis torturas físicas, não sejam mais trancados em sinistras masmorras, nem sadicamente queimados em praça pública, a vanguarda revolucionária ainda é o alvo principal dos ataques da caretice. Até hoje tem sido assim, em qualquer lugar e em qualquer época.
Pessoas libertárias são vistas como graves ameaças à ordem vigente, por mais cruel, decadente, injusta, retrógrada, tirânica e irresponsável que seja essa ordem. Pessoas revolucionárias são sempre vistas como rebeldes inconformadas, agitadoras, subversivas e baderneiras. Os comportamentos de vanguarda sempre foram rechaçados, desestimulados, ridicularizados, interditados e combatidos com toda a força do aparato institucional careta. Vanguardistas de todos os naipes e cores são submetidos regularmente a todo tipo de constrangimento e humilhação.
Cada vez mais “politicamente correta” (tem coisa mais careta do que essa coisa de “politicamente correto”?), a caretice tem desenvolvido e implantado formas muito mais sutis de exclusão e punição dos seus críticos e detratores. Agora eles são elegantemente “desconvidados” a fazer parte do mundo careta, sem direito nem mesmo a um emprego medíocre, que lhes assegure a renda para o café e o almoço de todo dia. Uma forma poderosamente sutil de punir, excluir e violentar pessoas revolucionárias através de pura e simples “insolvência financeira”.
Entretanto, para os espíritos libertários, a retribuição é a mais alta de todas que o ser humano pode aspirar em sua existência: a liberdade de se auto expressar; o prazer incomparável de ser a pessoa que se é, sem nenhuma máscara ou artifício; a paz de estar em paz com as próprias ideias, desejos e ações.
Essas recompensas nenhum sistema careta jamais poderá oferecer. E é por ela que os espíritos livres devem realmente lutar, hoje e sempre.
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