De uma forma ou de outra, todas as nossas dores e conflitos psíquicos estão ligados invariavelmente às expectativas dos outros ao nosso respeito. Tanto podem ser antigas e primitivas expectativas dos pais (ser o bebê mais lindo e esperto do pedaço..., fazer cocô no vaso o mais cedo possível...) quanto expectativas atualíssimas, que acabaram de ingressar no “nosso espaço aéreo individual” e já vêm com tudo para fazer gigantescos estragos no nosso equilíbrio emocional.
Sem falar nas “expectativas estruturais” da sociedade quanto ao nosso desempenho no mundo, que nos foram empurradas goela abaixo ao longo da nossa “educação”(leia-se: do nosso “adestramento” para assimilar tudo que a sociedade espera de nós e tudo que ela é capaz de fazer conosco caso a gente não a atenda...).
E bastam as primeiras palmadas dos pais ou as primeiras porradas do mundo, para qualquer pessoa descobrir que simplesmente não vai dar para viver em sociedade frustrando sistematicamente as expectativas dos outros ao nosso respeito...
Fato é que nossa saúde psíquica depende essencialmente de como lidamos com todas essas expectativas.
De olho nas “recompensas” reservadas a quem “pratica o bem” e vive de acordo “com o que é certo”, algumas pessoas, para não dizer a grande maioria, incorporam passivamente todas essas expectativas e levam suas vidas em função única e exclusivamente de atender os outros, sejam esses outros quem forem e sejam suas demandas as mais indevidas, inadequadas, exorbitantes e inoportunas possíveis.
O curioso é que, na maioria dos casos, a única recompensa existente em “fazer a coisa certa”, ou seja, em atender os outros, sempre e em primeiríssimo lugar, é a pessoa “não ser rejeitada” pelos outros, o que de maneira alguma significa “ser acolhida e aceita”, que é algo totalmente distinto e que, por sinal, quase ninguém tem o privilégio de ao menos experimentar nesse mundo.
No extremo oposto, estão os rebeldes, que insistem em continuar “cagando fora do vaso” pela vida afora. Mesmo sendo rejeitada e excluída, essa turma rejeita inteiramente atender as expectativas dos outros, mesmo sendo justas e necessárias.
Enquanto os primeiros vivem apavorados com a ideia de culpa, que é a vergonha que a gente sente em não atender as expectativas dos outros, os últimos fingem não sentir culpa nenhuma (na verdade, é muito difícil não sentir...) ou simplesmente, num grau de narcisismo "além de todas as contas", não sentem mesmo nenhuma culpa em frustrar qualquer coisa que os outros exijam deles.
Movendo-se entre os dois extremos, estão os poucos, pouquíssimos, que conseguem administrar eficazmente as suas relações com os outros. Que não sentem medo até mesmo de sentir alguma culpa quando a demanda do outro é tão estapafúrdia e indecorosa que exige um franco e direto “não”. E que também se sentem perfeitamente à vontade de atender as demandas do outro que eles podem, devem e querem atender.
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