Ponto importantíssimo do movimento antimanicomial, iniciado em meados da década de 1960 e ainda em curso, era e é a luta pela não rotulação das pessoas em termos médico-psiquiátricos. Uma vez que a pessoa é rotulada de portadora de transtorno mental, é praticamente impossível remover essa marcação. A pessoa rotulada de doente mental é simplesmente abjetada da vida social, ficando para sempre condenada a carregar o rótulo que lhe foi imposto (não existe ex-doente mental) e a viver uma vida socialmente marcada pelo estigma, que Judith Butler denominou de "vida precária".
A exemplo da luta antimanicomial, ponto importantíssimo da luta pela defesa dos direitos da população transgênera, iniciada em meados da década de 1990, é a não rotulação ou seja, a despatologização das transidentidades como portadoras de transtorno mental, conforme consta do CID-10 e do DSM-V.
Não é a pessoa transgênera que é doente. Doente é a sociedade que impõe a todo mundo, independentemente de qualquer escolha individual, as normas de conduta do rígido dispositivo binário de gênero, que divide os seres humanos em “homens” e “mulheres” em função de eles terem nascido macho, ou seja, com um pênis, ou fêmea, com uma vagina.
E agora, não contentes em rotular apenas adultos transgêneros com a alcunha psiquiátrica de “transexual”, termo equivalente a pessoa portadora de transtorno mental conforme o item F.64 do CID-10 (Classificação Internacional de Doenças da OMS – Organização Mundial de Saúde) profissionais de uma ultrapassada, alienada e repressiva “medicina e psicologia curativas”, ávidos em produzir a “cura” de uma doença que simplesmente não existe, estão estendendo sua rotulação patologizante a indefesas crianças e adolescentes!
Sim! E com a anuência das famílias, desesperadas para integrarem seus rebentos à “normalidade” do binarismo de gênero! Um absurdo em todos os sentidos, que está sendo “comemorado” como “vitória” por “movimentos organizados de travestis e transexuais”, que parece regozijar-se do pesadíssimo estigma que já carregam nas costas, uma vez que não só não parecem dispostas a abrir mão dele como desejam que até crianças e adolescentes sejam rotuladas (e socialmente abjetadas e estigmatizadas).
A luta não é pelo enquadramento de gênero, dentro do famigerado binário de gênero. A luta é pela extinção do binário de gênero, com o pleno reconhecimento e legitimação pela sociedade do que cada pessoa é, independentemente do que ela seja e independentemente de quaisquer “regrinhas” de conduta de gênero, forjadas para colocar e manter as pessoas numa camisa de força em função pura e simplesmente do órgão genital que trazem entre as pernas.
A luta é pelo reconhecimento e legitimação da DIVERSIDADE HUMANA DE GÊNERO e não pelo enquadramento apressado, feito de qualquer jeito e a qualquer custo, das PESSOAS DIFERENTES ao dispositivo binário de gênero, como se este fosse uma determinação da natureza e não a simples INVENÇÃO HUMANA que é.
Em vez de tentarem "curar" um "doente" de uma doença que não existe, tratem simplesmente de revogar a norma que criou a doença, tal como sugeriu o apóstolo Paulo ao dizer que "eu pequei porque havia a norma; mudem a norma que eu paro de pecar" (Romanos 7:7).
Em vez de tentarem "curar" um "doente" de uma doença que não existe, tratem simplesmente de revogar a norma que criou a doença, tal como sugeriu o apóstolo Paulo ao dizer que "eu pequei porque havia a norma; mudem a norma que eu paro de pecar" (Romanos 7:7).
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