Qualquer pessoa revoltada nesse mundo tem o seu discurso indigente, miserável e mendicante na algibeira, pronto a ser repetido mecanicamente na primeira oportunidade que surgir e, principalmente, quando ela achar que não está tendo nenhuma oportunidade. Menos valia, infortúnios diversos, desolação, queixa sistemática, abandono e exclusão são temas obrigatórios no discurso clássico da vítima, visando sensibilizar algum herói ou heroína de plantão para resgatá-la dessas e de outras penúrias existenciais.
Toda vítima está sempre à espera de heróis que venham salvá-la das “maldades do mundo”, assim como todo herói existe para salvar “vítimas indefesas”. São personagens complementares; um não sobrevive sem o outro.
Acontece que, na maioria dos casos de “salvamentos heroicos”, as vítimas, em vez de reconhecer o valor dos seus salvadores, passam a vê-los como “cruéis oportunistas” que só “se valeram delas” em benefício próprio, e passam a persegui-los e combatê-los implacavelmente.
Assim se forma e assim é mantido o famoso círculo do herói-vítima-perseguidor, onde todo herói acaba tendo seu dia de vítima e toda vítima indefesa torna-se uma perseguidora implacável do seu “salvador”.
Uma coisa é uma pessoa estar em dificuldade e solicitar ajuda; outra coisa é ela se fazer de vítima do mundo, das pessoas e das circunstâncias. São dois discursos radicalmente diferentes. Um é baseado no apelo legítimo que busca o apoio das outras pessoas. O outro não passa de um festival de lamúrias e queixas neuróticas, que não levam a nada.
Da mesma forma, uma coisa é alguém ajudar outra(s) pessoa(s) em coisas e situações em que ela pode contribuir para facilitar a vida do outro. Outra coisa é assumir a vida do outro, tornando-se responsável por tudo que a pessoa faz ou deixa de fazer. Toda vítima e todo herói são tiranos em potencial pois, no fundo, ambos desejam, à sua maneira, impor o seu próprio mecanismo de dominação sobre o outro.
Agora, que você compreende melhor esse círculo, faça um favor para si mesma: fique na sua. Esforce-se para eliminar os discursos de vítima da sua vida e vigie-se permanentemente para não repeti-los mecanicamente. Vigie-se, também, para ”ficar na sua”, em vez de sair por aí dando uma de super-herói para “salvar” pessoas de coisas e situações que definitivamente só dizem respeito a elas. Tanto o chaterésimo discurso de vítima quanto as encenações bombásticas do herói são formas altamente disfuncionais de comportamento que, pelo seu caráter absolutamente neurótico, produzem mais ruído e confusão do que resultados práticos.
Agora, que você compreende melhor esse círculo, faça um favor para si mesma: fique na sua. Esforce-se para eliminar os discursos de vítima da sua vida e vigie-se permanentemente para não repeti-los mecanicamente. Vigie-se, também, para ”ficar na sua”, em vez de sair por aí dando uma de super-herói para “salvar” pessoas de coisas e situações que definitivamente só dizem respeito a elas.
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