De onde surgiu essa gigantesca onda de neoconservadorismo que se abateu sobre nossas praias, que até aqui pareciam tão irreversivelmente modernas e progressistas? E para onde estão indo aqueles indômitos banhistas que, antes mesmo de terem conquistado o direito de nadar de “sunguinhas”, sem serem “confundidos” com viados (aff...), ou tomar sol de “topless”, já defendiam o direito de se banhar completamente nus?
A onda, evidentemente, não surgiu do nada. Aprendemos com a velha e boa ciência que não há efeito sem causa, embora o tsunami neoconservador queira resgatar coisas como o criacionismo, onde um criador todo poderoso teria criado o mundo do nada e de uma só veze, com tudo que existe nele, sem absolutamente nenhuma causa objetiva.
Como pesquisadora implacável, e com todo respeito a “criacionistas” e similares, estou em busca de causas reais e concretas para o retorno tão drástico, rápido e violento ao primitivismo tosco de uma sociedade patriarcal-machista, que parecia morta e enterrada com as cinzas da 2ª guerra mundial.
Por todo o planeta, as vozes machistas mais reacionárias e retrógradas voltaram a recitar o seu milenar besteirol com uma intensidade ensurdecedora. Terá sido isso que causou o súbito esvaziamento das praias mais frequentadas pela modernidade progressista? Terá sido o grito primitivo e grotesco desses ogros que silenciou de repente as frases tão bem concatenadas de defesa dos direitos humanos?
Na falta de recursos para aprofundar minha pesquisa, fico com a hipótese de que, junto com a retirada apressada e confusa dos banhistas, cada um buscando se cobrir e se refugiar como pudesse, muitos acabaram submergindo na “onda neoconservadora”, simplesmente aderindo ao movimento do mar, em vez de combate-lo.
Acredito, inclusive, embora me faltem recursos do Finep para fazer uma robusta pesquisa de campo, que boa parte dos que até ontem posavam de “banhistas progressistas” não passassem, na verdade, de conservadores oportunistas (o oportunismo é um traço marcante do conservadorismo), que apenas se valiam, para proveito próprio, da onda de progresso até então em voga. Passada a onda da modernidade, ou da pós-modernidade, para sermos mais modernas ainda, estão retornando, com a cara de pau de sempre, para os seus antigos, e nunca realmente perdidos, postos de agentes da cretinice reacionária.
E nós, que só queríamos o direito de toda e qualquer pessoa nesse mundo poder tomar o seu banho em paz, sem o perigo de ser molestada pelo que estivesse vestindo? Agora vamos ter que ser muito mais fortes e convictas no nosso pleito de cada pessoa ter o direito de ser quem ela é, sem ninguém cagando regras de como ela deveria ser, em nome de algum código religioso cheio de mofo e traças.
É um tempo de resistência como provavelmente nunca se viu na história da humanidade. Resistência que começa dentro de cada pessoa que acredita que a justiça é melhor do que a opressão. E que não está disposta a sair correndo, com a saia na cabeça, cada vez que um tsunami se abater sobre sua praia. Tsunamis passam; a praia fica.
É um tempo de resistência como provavelmente nunca se viu na história da humanidade. Resistência que começa dentro de cada pessoa que acredita que a justiça é melhor do que a opressão. E que não está disposta a sair correndo, com a saia na cabeça, cada vez que um tsunami se abater sobre sua praia. Tsunamis passam; a praia fica.
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