Duas Mulheres*
(Letícia Lanz, 15-10-2008)
Um dia você acorda
E não se recorda quem é
Se é uma virgem pura
Ou puta de cabaré
Uma escrava da loucura
Ou um exemplo de lucidez
Se dormiu há poucas horas
Ou se dorme há mais de um mês
Se é senhor ou se é senhora
Se está dentro ou se está fora
Se é sim, não ou talvez
E tudo que era tão perto
que parecia tão certo,
tão concreto, tão real
É como um imenso deserto
de certezas naufragadas
de verdades amputadas
no desejo remexido
como se todo um passado
jamais tivesse existido
e você, tão dividido,
fosse apenas fragmento
de um retrato esmaecido
Aflito, frágil, inseguro
Mal podendo equilibrar-se
sai tateando no escuro
como se fosse o disfarce
como se fosse o disfarce
de alguém que já foi um dia
mas nessa melancolia,
sem querer, olha ao redor,
e vê um pouco melhor
que alguém está ao seu lado
alguém que também está só
dividida, desolada,
constrangida, encabulada
constrangida, encabulada
e mesmo assim, na pior,
lhe dá comida e carinho
protegendo o seu caminho
como se fosse uma fada
amando, a flor e o espinho,
e esperando,
sem esperar nada.
* para Mari Kelly e Cláudia
Um comentário:
Lindo.
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