Acho que ninguém achava que estivesse me magoando tão profundamente insistindo comigo para que eu me comportasse como um menino. Ninguém pensava que eu sofresse tanto cada vez que me obrigavam a brincar com brinquedos de menino. Quando me diziam como era feio menino fazer coisas de menina.
Ao contrário, acho que eles é que achavam que eu quisesse de alguma forma confrontá-los em sua “autoridade de adultos” não correspondendo ao modelo de homenzinho que, na visão deles, eu deveria ser, em razão do órgão genital que eu tinha entre as pernas.
Eu sei que eles achavam que suas recomendações eram “para o meu bem” e eu não tinha nenhuma forma de ao menos suspeitar que pudessem não ser. Aquelas pessoas estavam realmente querendo o meu bem me orientando para que eu me adequasse às exigências do mundo, mesmo que para isso eu tivesse que abrir mão das inclinações naturais do meu ser.
Eu devia ser uma criança má, muito má, por não responder aos apelos e recomendações daquelas pessoas que aparentemente me amavam tanto. A sensação de não estar conseguindo corresponder às expectativas delas ao meu respeito aumentava ainda mais aquele sentimento de mal estar que por tanto tempo cercou minha vida, que hoje eu consigo identificar claramente como sendo culpa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário