sexta-feira, 12 de outubro de 2018

História 1 - Iluminar-se é Encher Uma Peneira de Água

Cinco discípulos viajaram muitos dias a fim de receberem os ensinamentos de um Mestre a respeito do que deveriam fazer para se iluminarem.

- Iluminação é uma peneira cheia de água... ouviram o Mestre mansamente lhes dizer logo no seu primeiro encontro.
Algo confusos e de certa forma decepcionados com tal ensinamento, arriscaram uma pergunta:
- E o que deveremos fazer para nos iluminar?
- Ora, é muito simples: encham as suas peneiras de água! respondeu-lhes o Mestre em tom categórico.

Visivelmente insatisfeitos com o Mestre, dois deles partiram imediatamente, lamentando terem vindo de tão longe para ouvir uma bobagem dessas. Outros dois também regressaram logo mas, ao contrário dos dois anteriores, saíram convictos de que havia um significado oculto nas palavras do Mestre, que eles deveriam desvendar através de um longo e meticuloso estudo dos Textos Sagrados.

Apenas um deles resolveu por em prática o ensinamento do Mestre. Apanhou, pois, uma peneira e foi para a beira do rio, onde, pacientemente, hora após hora, dia após dia, tentou de todas as maneiras enchê-la de água, como o mestre havia recomendado.

Reconhecendo o esforço e a humildade do discípulo, certo dia o Mestre aproximou-se dele e, tomando a peneira da sua mão, disse:
- Apanhando um pouquinho de água de cada vez e despejando dentro da peneira, você nunca conseguirá enchê-la de água. E num gesto rápido, lançou a peneira na correnteza do rio.

Ao ver sua peneira encher-se de água - para nunca mais se esvaziar - o discípulo se iluminou.

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Para eu viver a vida inteiramente
é preciso que eu me entregue à Vida inteiramente,

disposta a viver no AQUI e AGORA,
sem os conflitos binaristas de certo e errado, deus e diabo,
bom e mau, homem e mulher, passado e futuro

e seja lá do que mais for.

Não há inutilidade maior
do que fugir de viver as coisas que me rodeiam  
ou buscar significados ocultos
para os fatos da minha Vida.

Só mergulhando inteiramente, profundamente,
nas coisas e nas situações à minha volta
eu poderei perceber e entender o que a Vida é,
de modo a desfrutá-la integralmente,
sem hesitações ou julgamentos de qualquer espécie.

Por desatenção ao presente,
o que eu percebo da Vida
  e, consequentemente, o que eu recebo,
não passam de"migalhas",
lances esparsos, difusos e confusos
do que está acontecendo dentro e fora de mim.

Enquanto isso,
mesmo comigo ausente e tudo,
minha vida não para de viver.

Daí a incômoda sensação que dá
de que está sempre me faltando algo.
A terrível sensação de que,
a despeito de todos os meus grandes"esforços",
minha peneira continua vazia.


(Letícia Lanz)  

2 comentários:

Ana Shirley Bernardo de lucena disse...

Muito bom amiga querida !

Unknown disse...

Adoro os seus textos, obrigado por compartilhar essas gotas de sabedoria e paz.
Até hoje, quando estou mal, releio Eu comigo aqui e agora, e melhoro. Esse livro é como um amigo, paciente e fiel.