(Folha de São Paulo, 20-10-2018)
Jaron Lanier, precursor da realidade virtual |
Jaron Lanier, 58, não poupa críticas ao modelo de negócios
baseado em publicidade, que sustenta a maior parte do que conhecemos por
internet hoje. Serviços gratuitos como Facebook, Google e WhatsApp, no fundo,
cobram caro. Na visão de Lanier, manipulam, mudam comportamentos e, muitas vezes,
nos tornam babacas.
Com o saudosismo da internet descentralizada dos anos 1980,
Lanier defende que é possível reconstruir uma web economicamente igualitária.
Em seu quinto livro, “Dez Argumentos para Você Deletar Agora
suas Redes Sociais”, recém-lançado no Brasil, o cientista da computação e
precursor
O sr. fala em recriar a internet. Como?
Chegamos aqui por vários erros, muitos cometidos por
pensarmos que era o caminho certo. Alguns são econômicos e vêm desde o início
da internet, quando predominava o pensamento de que tudo deveria ser feito só
por empresas de tecnologia e sem interferências. Uma ideologia libertária forte
criou monopólios.
Tínhamos a ideia de que a única forma de inovar e manter o
serviço livre era com um modelo baseado em publicidade, o que nos trouxe a um
contexto de vigilância universal. Defendo algumas possibilidades, como um
sistema em que as pessoas possam ser pagas pelo que fazem online e paguem pelo
que gostam de fazer on-line. Isso tira o dinheiro da publicidade e torna a
relação mais direta e honesta.
A comunicação no WhatsApp não é mediada por anúncios.
A experiência da superfície é diferente, mas se trata da
mesma coisa do Facebook, que leva em conta as métricas do WhatsApp. Se você
destrói uma coisa pelo preço de ajudar, não ajuda. É o que está ocorrendo com
serviços gratuitos: o lixo [de informação] deles está acabando com a sociedade.
Como as pessoas seriam pagas?
Os dados são captados das pessoas por plataformas que as
vigiam o tempo todo, incluindo o WhatsApp. Esses dados são usados para
programas de inteligência artificial, que acabam roubando empregos. Podemos
encontrar um modo de compensação. Além disso, quando pagamos por algo na
internet, fica melhor. O exemplo é a Netflix.
Não há risco de criar novos ciclos de monopólio?
Sim, mas a Netflix está muito longe disso, não há comparação
com Facebook e Google. A Netflix criou competidores com preços diversos e
conteúdos que agradam às pessoas.
Por que o modelo de anúncio nos transforma?
A publicidade tradicional era uma comunicação de via única.
Quando você olhava para o anúncio da TV, ele não estava te olhando de volta. Na
internet, é diferente: há mais informação sendo tirada de você do que que
oferecida. Ferramentas em qualquer site captam como seu corpo se mexe, onde
você está e tudo sobre seus dispositivos. O que você vê é a menor parte do que
acontece.
Toda informação tirada de você é usada para mudar sua
experiência online e criar uma sistemática que te prenda. Isso é chamado de
engajamento. Chamo de vício. É quase como vício em jogo, há busca por
satisfação, e a punição é severa.
Os dez argumentos de Jaron Lanier
01.
Você está perdendo seu livre-arbítrio
02.
Largar as redes sociais é a maneira mais
certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos
03.
As redes sociais estão tornando você um babaca
04.
As redes sociais minam a verdade
05.
As redes sociais transformam o que você diz em
algo sem sentido
06.
As redes sociais destroem sua capacidade de
empatia
07.
As redes sociais deixam você infeliz
08.
As redes sociais não querem que você tenha
dignidade econômica
09.
As redes sociais tornam a política impossível
10.
As redes sociais odeiam sua alma
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