Para quem conhece Curitiba, apanhei o Uber na Praça Zacharias. Sentei-me no banco ao lado do motorista. Era um moço dos seus trinta anos e adorava conversar. Na altura da Carlos de Carvalho com Visconde do Rio Branco, ele apontou duas gurias na calçada e disse:
- Quem diria que essas duas ali são homens!
Me fiz de completamente desentendida.
- Hein? Homens?
- Sim! A Senhora não percebeu que são travestis?
De novo, me fiz de inteiramente por fora.
- Travestis?
- Sim. Esses homens que se vestem de mulher... Agora estão fazendo ponto ali até de dia...
Seguiu-se um silêncio cerimonioso entre nós, quebrado pelo alarme do whatsapp do motorista.
- Olha só! Ela me viu passando e está me pedindo para apanha-la na volta...
- Quem? Uma daquelas “meninas”?
- Não! Deus me livre, dona Letícia (motoristas do Uber sempre sabem o nome da gente). Era minha mulher que me viu passando na Emiliano Perneta e está pedindo que eu a apanhe quando terminar essa corrida. Estamos casados há dois anos.
- Não se preocupe. Para mim não haveria diferença nenhuma se o chamado fosse de uma daquelas “meninas”...
- Não, dona Letícia! Eu, graças a Deus, sou daqueles que só gosto “daquilo que eu não tenho”! Afirmou o motorista categoricamente. E prosseguiu:
- Não tenho absolutamente nada contra gays. Eu até gosto de ver que todo homem bonito é gay ou travesti. Assim “sobram mais mulheres" para mim... rs.
Novamente se fez um silêncio cerimonioso entre nós.
- O senhor deve estar pensando que eu seja uma velha meio avançada, né?
- Não, dona Letícia! De maneira nenhuma. E também não acho que a senhora seja velha. A senhora está muito bem fisicamente.
- Mas e se eu lhe dissesse que eu sou uma travesti, o que é que o senhor pensaria disso?
Fazendo a cara mais incrédula do mundo, o motorista disparou:
- Travesti? A senhora? Desculpe-me, mas ia ser muito difícil eu me convencer que uma mulher chique como a senhora é travesti. Sou capaz de reconhecer "um" travesti de longe!
E riu bastante da minha “brincadeira”.
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