quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Os pequenos machistas-fascistas que habitam dentro de nós

Existem basicamente duas formas de se convencer as pessoas de alguma coisa: uma é baseada no amor; a outra, no medo. Vou chamar de democracia a forma de convencimento baseada no amor. A outra, baseada no medo, tem inúmeros nomes, todos, infelizmente, muito conhecidos: tirania, despotismo, ditadura, fascismo, machismo estrutural. Os métodos de convencimento baseados no amor partem do respeito a princípios e valores éticos universais como:
- Respeito incondicional aos direitos e à dignidade da pessoa humana;
- Respeito à diversidade humana de raça, etnia, classe socioeconômica, gênero, sexo, religião, etc.;
- Respeito à livre expressão das ideias e comportamentos de pessoas, grupos e sociedades humanas;
- Respeito à vontade da maioria, quando essa maioria consegue se expressar de maneira clara e inequívoca, por livre iniciativa e deliberação própria, sem o recurso de mecanismos de manipulação de massa.

Os métodos de convencimento baseados no medo partem de princípios e valores que agridem abertamente os direitos humanos, como:
- Suspensão dos direitos humanos e flagrante desrespeito à dignidade da pessoa humana;
- Flagrante desrespeito à diversidade humana em todos os seus diversos aspectos, a partir de uma defesa intransigente de identidades nacionais, raciais, sexuais, socioeconômicas e religiosas específicas, em detrimento de todas as demais;
- Censura, ameaça e combate sistemáticos à livre expressão das ideias e comportamentos de pessoas, grupos e sociedades humanas contrários às “verdades” defendidas pelo grupo supremacista tirânico;
- Esquemas permanentes de manipulação da vontade da maioria, através do emprego de sistemático de mecanismos “sujos” para modelagem e direcionamento da opinião pública.

Como seres humanos, imperfeitos, limitados e sempre metidos a “espertos”, fingimos optar pelos sistemas de convencimento baseados no amor mas, na prática, não temos nenhum pudor em empregar os métodos fascistas sempre que descobrimos uma oportunidade, justificando muitas vezes a nossa ação como importante e fundamental para a “preservação da ética” nas relações humanas.

Por mais feia que seja, a verdade é que há inúmeros pequenos machistas-fascistas-ditadores-tiranos-déspotas dentro de cada uma de nós, tentando se fazer passar o tempo todo por democratas de grande e abnegado “espírito público”, lutando permanentemente em prol do “bem comum”.

Se você realmente acredita na força do amor muito além da boca-pra-fora sua tarefa principal de cada dia é descobrir e cortar a cabeça de cada um desses pequenos machistas-fascistas que se abrigam dentro de você mesma. São eles que transformam nossas melhores “boas intenções” em terríveis alianças com o diabo, transformando-nos em aliadas do medo, da força e da opressão.

É fácil localizar esses pequenos fascistas-machistas dentro de você. Basta ficar atenta. Sempre que uma voz dentro de você sussurrar (muitas vezes gritar) querendo:
- ter razão a qualquer preço, mesmo diante dos sólidos argumentos apresentados pela parte contrária às nossas ideias;
- “aparecer” mais do que tod@s @s demais na situação;
- obter vantagens e benefícios pessoais, em vez de buscar o entendimento entre as pessoas e resultados que beneficiem a todos;
- mostrar força e poder – físico, econômico, intelectual, hierárquico, político, etc – com o propósito de submeter, diminuir ou massacras as outras pessoas, reduzindo-as a meros títeres sem direitos e sem vontade própria;

Esses são apenas uns poucos exemplos de inúmeras outras demonstrações – ostensivas e sutis – dos pequenos monstros fascistas-machistas que habitam dentro de nós, por força da educação, contraditória e repulsiva, que recebemos desde a nossa infância. Educação que, de um lado, defende o amor e a democracia como ícones máximos da existência humana mas, de outro, dizem que é preciso ser forte, empoderanda e impor a sua própria vontade a todos os demais, custe o que custar, pouco importando o método empregado para esse “convencimento”.

Da próxima vez que for participar da discussão, tente enxergar os seus próprios “pequenos fascismos”, em vez de ficar observando e denunciando os fascismos do outro. Você poderá se surpreender com o tamanho do seu fascismo-machismo estrutural, tão bem camuflado sob uma capa aparente de defensora dos “valores universais da ética”.

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