Indivíduo de personalidade intrigante, o Dr. Harry Benjamin pode ser considerado o grande pioneiro da medicina na identificação, descrição e tratamento dos Transtornos de Identidade de Gênero, sendo hoje um verdadeiro ícone na história da transgeneridade.
Alemão, nascido em 1885, praticou clínica geral e endocrinologia em Nova York e São Francisco. Veio a interessar-se por temas ligados à transexualidade através de outro grande sexólogo, o Dr. Alfred Kinsey (o do famoso relatório). Em 1948, Kinsey pediu ao Dr. Benjamin que examinasse uma criança que insistia em se tornar mulher, apesar de ter nascido homem. Kinsey conheceu a mãe da criança, que lhe pediu ajuda, quando fazia as entrevistas de campo para o seu relatório sobre o comportamento sexual masculino. Este menino rapidamente levou o Dr. Benjamin a identificar que ele apresentava uma condição muito diferente do travestismo, rótulo sob o qual eram genericamente classificados os adultos da época, em situação semelhante à do guri. Naquela época, ele tratou a criança com estrógeno (premarin, já existia a partir de 1941) e verificou uma grande redução da sua ansiedade.
Sua paciente mais famosa foi Christine Jorgensen que, em 1952, tornou-se uma das primeiras (senão a primeira) transexual operada no mundo (seguida mais tarde por Roberta Cowell, na Inglaterra e Coccinelle, na França).
Em 1966, o Dr. Benjamin publicou sua obra de maior importância, O Fenômeno Transexual, considerado um marco histórico na definição de padrões para o tratamento clínico de pessoas portadoras de distúrbios de gênero. Curiosamente, essa sua obra foi dedicada à sua mulher Gretchen, com quem foi casado 60 anos.
Afora a sexologia, o Dr. Benjamin foi também um gerontologista, tendo vivido, ele mesmo, 100 anos. Foi também esoterista, discípulo de Gurdjieff, tendo publicado uma obra sobre o quarto caminho, em 1971.
Com sua permissão e apoio, foi formada, em 1979, a The Harry Benjamin International Gender Dysphoria Association (Associação Internacional Harry Benjamin para Disforia de Gênero) que hoje é a WPATH (World Professional Association for Transgender Health ou Associação Internacional para a Saúde Transgênera) . Desde a sua fundação, essa entidade publica periodicamente o Standards of Care for Gender Identity Disorders, ou seja, os “Padrões de Tratamento para Desordens de Identidade de Gênero”, que desde então têm sido uma importante referência para os profissionais médicos, sexólogos e psicoterapeutas atuando na assistência a pessoas transgêneras.
A "Escala" do Dr. Harry Benjamin foi publicada em 1966, inspirada no trabalho do seu amigo Alfred P. Kinsey, com material recolhido principalmente a partir dos seus exaustivos trabalhos de campo junto a transexuais, realizados desde 1952. O aspecto mais criticado da tabela do Dr. Benjamin é precisamente a "ponte" que ele faz com a famosa Escala Kinsey(*) de orientação sexual humana. Por serem amigos e terem se influenciado mutuamente, o Dr. Benjamin quis incluir as descobertas de Kinsey na sua tabela. É importante lembrar, para qualquer crítico apressado, do pioneirismo da tabela do Dr. Benjamin, publicada numa época em que o assunto transexualidade era um grande tabu, além de totalmente desconhecido da classe médica e psi.
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