quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Depressão: escute o que lhe diz o seu lado Sancho Pança

Depression - Jacob Lawrence (USA, 1917-2000)
O que está adoecendo as pessoas, física e emocionalmente, é o jogo liberal-individualista-egoísta-narcisista do “eu posso tudo que eu quiser”. Esse é o convite e o incentivo contínuos que movem a sociedade de consumo. Que nos move a nós, pobres escravos da sociedade psicotécnica, em que somos manipulados e dirigidos o tempo todo por aplicativos e redes sociais cada vez mais onipotentes e onipresentes. 

E quando a pessoa descobre que não bastou querer para poder, que não foi suficiente esforçar-se muito além do limite das suas forças para alcançar os objetivos de sucesso, dinheiro e poder que lhe foram vendidos como perfeitamente alcançáveis, tudo que lhe resta é depressão, que nada mais é do que frustração e desânimo, junto com uma raiva contida, confusa e difusa por tudo e por todos mas, principalmente, por si mesma. 

Não basta, não, você querer para poder. Existe uma bruta estrutura de poder – político, econômico e cultural - montada aí fora, e não adianta você lhe fazer vistas grossas. Ela é poderosa demais para ser derrotada por você, sozinha e sem recursos. Você não é D. Quixote e elas não são moinhos de ventos: são dragões vorazes que sugam suas forças, como na grande metáfora da Matrix, das irmãs Wachovsky. Caia na realidade: escute o que lhe diz o seu lado Sancho Pança. 

É muito difícil sair de um quadro depressivo depois que de se entrar nele. Então o melhor é não entrar, ficar de fora, assistindo o circo pegar fogo e os palhaços encherem - e quebrarem - a cara. O sistema sabe que pessoas deprimidas e ansiosas são fáceis de ser controladas. Por isso mesmo, continua insistindo que você se deprima, incutindo-lhe com mensagens inocentes e sacanas do tipo “seja uma vencedora” e “fracasso é para pessoas fracas”. 

Fuja da armadilha de querer ter mais do que você tem acreditando que só assim você será mais do que você é, simplesmente porque ninguém pode ser mais do que é. Não tente superar-se a fim de se tornar o que você nunca poderá ser. 

Acredite que “superar-se” é compreender e aceitar os seus próprios limites. Superar-se é saber que há limites que definitivamente não podem ser superados, principalmente a VIDA que é totalmente finita, acaba, termina, tem fim e junto com ela, você, com as idealizações megalomaníacas que lhe foram vendidas por uma sociedade doente e decadente.

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