O processo analítico não é nada metafísico ou transcendental como tanta gente imagina, mas puramente material. Tudo o que somos, pensamos e sentimos está registrado no nosso cérebro através de sinapses, que são ligações entre os neurônios. Essas extensas, complexas e praticamente infinitas ligações entre neurônios compõem as nossas redes neurais, que "administram" nossos corpos e nossas vidas.
Alterar comportamentos significa basicamente formar novas sinapses no cérebro, nada mais. Pode ser que um dia as neurociências tenham remédios para nossas disfunções comportamentais. Pode ser. Por enquanto, acessar a "programação" contida no nosso cérebro é trabalho lento e incerto. Comparo a tarefa da dupla analisante/analista numa sessão como uma verdadeira arqueologia do ser, onde o mapeamento de toda a rede neural depende de lembranças de fragmentos isolados, dispersos pela rede neural e raramente acessíveis de forma direta.
Antes de ser um psicanalista, Freud era um neurologista, profundamente interessado em entender o funcionamento das redes neurais do nosso cérebro. Nós, que trabalhamos dentro da tradição Freudiana, somos nada mais do que arqueólogos do cérebro humano. Não há nenhuma metafísica ou transcendência no nosso trabalho. Apenas a tarefa atenta e paciente de coletar fragmentos das redes neurais dos analisantes que aparecem, em cada sessão, através da linguagem.
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