Antes de prosseguir, é necessário dizer que há basicamente dois tipos de visibilidade: a visibilidade social e a visibilidade narcísica. Pessoas e grupos dependem de criar e manter visibilidade social a fim de poderem ao menos pleitear os seus direitos. Ser invisível significa não ser vista pela sociedade mas também significa não ter presença, não ter voz, não ter como reivindicar seus direitos. É por isso que, apesar da possibilidade de se tornarem vítimas de maior desrespeito, rejeição e violência, muitos indivíduos e grupos estigmatizados e discriminados sentem-se compelidos a marcar sua presença no quadro social.
Mais além dessa visibilidade social, tão necessária e relevante do ponto de vista político e cultural, existe uma visibilidade narcísica, em que a grande motivação de pessoas e grupos invisibilizados não é se tornarem visíveis no espaço social, mas pura e simplesmente “aparecerem”. É muito comum a motivação narcísica vir revestida de um sincero interesse pela causa do grupo invisibilizado, mas uma simples olhadela no comportamento de uma pessoa é capaz de denunciar o seu objetivo altamente individualista, que é de aparecer e de brilhar à custa da causa que supostamente defende.
Por sua própria natureza, movimentos identitários são vítimas preferenciais de personagens em busca de visibilidade narcísica. Naturalmente, quem perde com isso são os próprios movimentos, cujos legítimos pleitos são colocados à margem, engavetados e esquecidos em favor da necessidade compulsiva dessas pessoas em alcançar o brilho, a fama e o reconhecimento público de si próprias. E olha que elas não poupam nem esforços nem a ética para galgarem postos e se manterem na crista da onda.
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