Existem basicamente duas formas de felicidade: aquele estado emocional de gozo e plenitude resultante de experiências emocionais positivas - como satisfação, alegria, amor - que os gregos chamavam de hedonia (prazer), e aquele estado emocional de alívio e resignação resultante da evitação e fuga de experiências emocionais negativas – como medo, vergonha e culpa.
Freud afirmou que, embora todas nós estejamos, teoricamente, sempre em busca da felicidade, na prática passamos a maior parte do tempo evitando a infelicidade. Ou seja, passamos mais tempo evitando o desprazer do que buscando o prazer. Voltando à nossa pergunta inicial, é mais do que provável que as pessoas estejam, na sua maioria, buscando a evitação do desprazer, em vez de buscarem o prazer, ao terem esses arroubos de “descompressão” da ditadura das normas sociais de conduta.
Ao “se soltarem” do jeito que puderem, e o máximo que puderem, em geral com o auxílio do álcool e de drogas, legais ou não, existe ali muito mais uma tentativa desesperada de se livrarem das amarras, limites e inconvenientes sociais do que uma busca consciente e deliberada pela felicidade proporciona por experiências emocionais realmente positivas e recompensadoras. Tanto é que, ao voltar “ao normal”, depois dessas incursões etílicas ao “reino do prazer”, ao qual dificilmente teriam acesso de outra forma, a maioria experiencia doses ainda mais elevadas de medo, vergonha e culpa do que antes da corrida desembestada em direção à felicidade.
Diante das enormes e permanentes pressões da sociedade para conformidade às normas de conduta, não é nada fácil uma pessoa construir e manter “espaços psíquicos” voltados para a busca e a manutenção de formas positivas de felicidade. Todo o seu esforço estará normalmente voltado para evitação da infelicidade, o que corresponde dizer que ela só consegue, no máximo, livrar-se de ser infeliz, o que é muito diferente de ser feliz.
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