Apesar de superficial e tendenciosa, os ricos acreditam cegamente nessa crença simplória de que o pobre é pobre porque é vagabundo. Não só quem é verdadeiramente rico, mas também quem acha que é rico por ganhar R$5.000,00 por mês e ter um carro, seminovo, comprado em 200 prestações mensais. É tão humilhante e socialmente degradante ser pobre que nem pobre gosta de ser pobre. Como disse uma vez o sábio Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual desempregado. Pobreza é feia e reprovável sob todos os aspectos mas, se continua a existir, é por culpa única e exclusivamente do pobre.
A conversa fiada, mentirosa e cruel, que circula entre os ricos é que o pobre é o grande culpado da sua própria pobreza, assim como o rico é o único responsável por sua própria riqueza. Nem por um momento sequer se cogita a hipótese do verdadeiramente rico ser o grande responsável da pobreza do pobre. Afinal, o rico só é rico graças a muito trabalho e perseverança (ou será perseve-herança?), coisa que o pobre é completamente avesso.
É por isso que o “mercado” - o outro nome que se tem dado aos ricos - fica tão “nervoso” diante do surgimento de um governo determinado a gastar o dinheiro público para ajudar os mais pobres, em vez de usar esse mesmo dinheiro para tornar os verdadeiramente ricos mais ricos (e empobrecer um pouco mais os que se acham ricos...).
A marca registrada dos mais ricos é o egoísmo e a cobiça desmedida e despudorada pela acumulação de riquezas. É evidente que o pobre não é pobre porque deseja ser pobre, porque é preguiçoso, porque não trabalha, porque não empreende, porque nunca se esforça o suficiente. O pobre é pobre porque a sociedade lhe nega ostensivamente todas as possibilidades do pobre deixar de ser pobre. E vai continuar sendo pobre enquanto os ricos, donos do poder econômico, continuarem acreditando nessa mentira que cunharam para si próprios, talvez para reduzir um pouco da sua culpa (se é que ainda são capazes de algum sentimento), de que o pobre é pobre porque é preguiçoso, porque não trabalhar, não se esforça, não tem “espírito empreendedor”.
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