Esse é o ideal do fascismo, do nazismo e de todas as formas de totalitarismo: fazer com que suas normas de conduta – política, social, cultural, econômica e religiosa – subjuguem todas as outras formas de existência porventura existentes, tornando-se totalmente hegemônicas.
Nesse ideal fascista, não há lugar para nenhum tipo de diversidade, nenhuma expressão ou manifestação de diferença. Tudo e todos devem se render e ser absolutamente fieis ao pensamento único e às estritas normas de conduta que orientam a sociedade e todos os seus “societários”, no meio dos quais em hipótese alguma deverá existir qualquer tipo de divergência ou desvio dos modelos defendidos pela ordem vigente.
Eu me pergunto, todos os dias, em que medida posso estar colaborando e até lutando ativamente para que algum ideal maldito de “pureza” – racial, econômica, religiosa, sexual, de gênero, intelectual, ideológica e o escambau – se estabeleça e se afirme na sociedade em que vivo.
É preciso ter extremo cuidado quanto ao que eu defendo e ao que eu combato para não me tornar, eu mesma, ainda que involuntariamente, aliada de algum modelo fascista de “pureza”. Para não me converter, por inconsciência das consequências dos meus pensamentos, palavras e ações, em agente de algum fascismo purista que, em nome de implantar suas ideias e valores, se torne propenso a empregar qualquer forma de violência contra indivíduos e/ou instituições que se lhe oponham e mostrem resistência ao seu projeto hegemônico.
Conforme nos ensinou Hannah Arendt, a “banalidade do mal”, que consiste em simplesmente desconhecer a repercussão social dos meus atos individuais, nasce simplesmente da minha própria “inconsciência do mal” que meus pensamentos, palavras e ações possam causar à construção e manutenção de uma sociedade amplamente democrática e plural, em que todas as pessoas sejam reconhecidas, incluídas e aceitas – não simplesmente toleradas – a despeito das suas diferenças de raça, credo, gênero, orientação sexual, ideologia política e confissão religiosa.
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