Chocar nunca foi a melhor estratégia para checar pessoas e estruturas opressivas.
Uma coisa é checar permanentemente todas as formas de violência e opressão. Outra coisa é chocar pessoas e estruturas opressivas e violentas, das formas mais escandalosas possíveis, achando que com isso elas estão sendo checadas. Não estão.
É preciso checar sim, sempre, pessoas e instituições que se valem do poder político, econômico, familiar, religioso ou de qualquer outra modalidade de poder para dominarem e oprimirem as pessoas.
Mas é preciso compreender que chocar o poder, gratuita e escandalosamente, tem sempre o efeito contrário de empodera-lo, em vez de abala-lo.
Checar o poder tem o objetivo claro e específico de desmascara-lo e desconstruí-lo, colocando o dedo nas suas feridas expostas, com determinação e assertividade. E apesar de também apregoar o desejo de desmascarar e desconstruir o poder, chocar a ordem vigente acaba tendo o efeito contrário de dar munição ao poder para se fortalecer ainda mais.
Para checar o poder de maneira consistente é necessário muito mais do que choca-lo de maneira escandalosa e gratuita. É preciso, em primeiro lugar, ter um foco nítido de contestação e uma pauta sólida de reivindicação. Em segundo lugar, é preciso ter uma base de apoio, que seja o mais ampla possível, capaz de dar sustentação, tanto à contestação quanto à reivindicação. Em terceiro lugar, é indispensável uma estratégia de abordagem, que seja adota e seguida por toda a base de apoio, de modo que as pessoas não saiam por aí simplesmente “chocando” e dando tiros à revelia do movimento, sem nenhum compromisso com o coletivo.
Por a bunda e os peitos de fora em praça pública pode parecer, à primeira vista, uma forma muito eficiente de checar os moralismos hipócritas do poder, mas é apenas uma maneira chocante de chamar a atenção da população, despertando a fúria da sua veia reacionária e conservadora. Assim, em vez de conseguir denunciar o moralismo acaba sendo um reforço para o recrudescimento e intensificação dos discursos moralizantes dos setores mais hipocritamente moralistas da sociedade.
Chocar pode ter - e tem - um efeito catártico dentro do gueto trans. Discursos e gestos chocantes fazem parte do nosso folclore e têm público transgênero e não transgênero garantidos. Basta dar uma olhadinha nos canais de vídeo transgêneros que existem no youtube. Os mais concorridos são sempre os mais chocantes que, não por simples coincidência, são também os mais destituídos de conteúdo reivindicatório bem fundamentado e consistente.
O problema é que nem de longe essas grandes audiências de canais trans-chocantes representam ao menos uma parcela da base de apoio que o movimento transgênero tanto necessita para a reivindicação dos nossos direitos civis. De tal forma que chocar, como mostrei acima, acaba servindo apenas e tão somente ao protagonismo interesseiro de algumas pessoas trans, nem de perto interessadas em checar a ordem vigente em defesa dos interesses coletivos da população trans.
Chocar pode ter - e tem - um efeito catártico dentro do gueto trans. Discursos e gestos chocantes fazem parte do nosso folclore e têm público transgênero e não transgênero garantidos. Basta dar uma olhadinha nos canais de vídeo transgêneros que existem no youtube. Os mais concorridos são sempre os mais chocantes que, não por simples coincidência, são também os mais destituídos de conteúdo reivindicatório bem fundamentado e consistente.
O problema é que nem de longe essas grandes audiências de canais trans-chocantes representam ao menos uma parcela da base de apoio que o movimento transgênero tanto necessita para a reivindicação dos nossos direitos civis. De tal forma que chocar, como mostrei acima, acaba servindo apenas e tão somente ao protagonismo interesseiro de algumas pessoas trans, nem de perto interessadas em checar a ordem vigente em defesa dos interesses coletivos da população trans.
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