A que fins atende a insistente política dos movimentos “T” em manterem a divisão entre travestis e transexuais, sem falar em drag queens, transformistas e crossdressers, cuja existência, além de não ser reconhecida, é permanentemente contestada por esses movimentos?
Para mim está mais do que claro que essa impertinência na manutenção de transidentidades separadas de forma tão rígida umas das outras (algumas até mesmo sumariamente excluídas da órbita dos movimentos) cumpre apenas o propósito altamente pernóstico de se assegurar uma nada sutil “hierarquia” entre as transidentidades, de modo a imitar, com perfeição, o mesmo sistema identitário hierárquico em vigor na sociedade.
Transexuais sempre se apresentaram como sendo “mais” do que travestis que, por sua vez, julgam-se mais do que “crossdressers” (CDs), transformistas e dragqueens. Mas o que será que confere esse “plus” às pessoas transexuais? A suposta “passabilidade” que se adquire com as cirurgias, as hormonizações, e que confere às pessoas transexuais, especialmente às pessoas transexuais “operadas”, um grau elevado nas “trans-hierarquias”? É óbvio que esse argumento, por mais “furado” que seja, está no topo da lista de supostas “características identitárias” que separam a transexual da travesti.
Além do que travesti nasceu na rua, é “cachorro de rua”, por mais que os movimento tentem disfarçar e encobrir a natureza absolutamente transgressiva das travestis, indelevelmente associadas à prostituição, à cafetinagem e ao tráfico, entre outras “mazelas sociais”. A transexual, além de gostar de se considerar 100% mulher, gosta de manter uma fachada de reputação ilibada, assim como se gaba de ter percorrido uma jornada de muitos sofrimentos, até atingir a sua “plenitude como mulher”. Os movimentos foram construídos em cima dessa divisão crucial entre “pureza” e “desvio”, entre “passabilidade plena” (aff...) e “tá-na-cara-que-são-homens-vestidos-de-mulher”.
Eu nunca vi nenhum propósito além desses, sutilmente encapados no discurso de defesa de “interesses identitários”.
Abaixo essas hierarquias inúteis, sistemas de poder disfarçados de representação de interesses coletivos. Hierarquias que acintosamente diminuem e excluem pessoas em função da identidade em que se reconhecem. A luta que faz sentido é pelo direito de cada pessoa poder ser a pessoa que é, independentemente da identidade com que se apresenta no seu dia-a-dia. #pelofimdasidentidadesdegênerocomomecanismosprodutoresdedesigualdades
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