(clique para ampliar) |
Não tem nada mais duro do que ter que assumir uma identidade de gênero como resultado de imposição da vida: é assim que eu me sinto em relação a mim mesma, mesmo que a sociedade diga que não me é permitido sentir assim. E pague-se por isso o preço, sempre violento e exorbitante, da transgressão.
Esse é o drama que atinge a população transgênera, aquela parcela da população que não se adequa, se ajusta ou se acomoda aos papeis de gênero que a sociedade lhe impõe, em função do órgão genital – de macho ou de fêmea – que traz entre as pernas. O custo dessa inadequação é a transgressão das regras de conduta do dispositivo binário de gênero, com as consequentes punições reservadas pela sociedade a quem desobedece suas normas e costumes.
Mas existe uma outra vertente nessa questão de expressão de gênero que merece ser detidamente examinada. Pessoas que se valem da representação de gênero como estratégia para fazer sucesso e ganhar dinheiro, através da criação de factoides em torno de si próprias. A sociedade adora teatro, adora circo, adora fantasia. Por isso mesmo, não é de hoje que se empregam os recursos de maquiagem, figurino e montagem do teatro saltimbanco, quando se quer conquistar a atenção do público. Há séculos, personagens como Arlequim, Pierrot e Colombina, com suas indumentárias vistosas, atraem e mantêm a atenção de públicos de todas as idades para os seus prosaicos enredos amorosos.
Definitivamente, não é de pantomima que tratamos quando estamos falando de disforia de identidade de gênero, a síndrome por trás da condição transgênera. As pessoas cisgêneras, isto é, que vivem em sintonia com as identidades de gênero para as quais foram designadas ao nascer, não podem se valer indiscriminadamente de uma insuportável condição de inadequação sociopolítica que, muitas vezes, condena à morte em virtude da transgressão das normas de gênero vigentes na sociedade.
Uma coisa é você se sentir outra coisa: nascer macho e resistir de todas as formas ser enquadrado como homem. Outra coisa é você não só sentir como declarar-se adequado à categoria de gênero em que foi classificado ao nascer MAS valer-se da pantomina da representação transgressiva do gênero para auferir vantagens pessoais.
Aqui, a disforia de gênero deixa de se chamar disforia para chamar-se oportunismo.
Precisamos distinguir seriamente entre DISFORIA DE GÊNERO e OPORTUNISMO DE GÊNERO. Não podemos aceitar que pesadíssimos conflitos de identidade, que destroem a paz de pessoas transgêneras, sejam falsamente apropriados e simulados por pessoas declaradamente cisgêneras, com o fim claro e explícito de se diferenciar no mercado, impressionar o público e fazer sucesso e dinheiro, de forma fácil e rápida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário